sábado, 25 de fevereiro de 2012

Ministra da Cultura, Ana de Hollanda ressalta história do PT

Pai da ministra foi um dos fundadores do Partido

“Eu acho que a militância do PT está carregando uma história do Brasil, e um pedaço muito importante da história do Brasil. Era um sonho de um partido de esquerda tomar o poder de uma forma democrática, e de governar de uma forma democrática. E o PT conseguiu isto”, declarou a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, que se emocionou ao lembrar de seu pai, Sérgio Buarque de Hollanda, que também foi um dos fundadores do PT.

Por: Fabrícia Neves – Portal do PT

Assista o video:

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Ministra da Cultura Ana de Hollanda visita Osasco neste sábado (25/02)


A Prefeitura de Osasco, por meio de sua Secretaria de Cultura, dá posse, no próximo sábado, 25 de fevereiro, aos Conselheiros Municipais de Cultura. A cerimônia acontece no Centro de Eventos Pedro Bortolosso, a partir das 14h.

Trata-se de um momento histórico para a política cultural de Osasco, tendo em vista a postura de vanguarda da cidade em instituir um Conselho composto em sua maioria pela sociedade civil e com caráter deliberativo sobre a destinação dos recursos do Fundo Municipal de Apoio à Cultura.

Com a posse, a cidade cumpre a Diretriz nº1, Meta nº1 do Eixo Cultura, constante do Projeto Osasco 50 Anos – instrumento de planejamento elaborado coletivamente, com ampla participação da população.

Fonte: Comunicação Social da Prefeitura de Osasco

Concessão não é privatização - Walter Pinheiro


A insistência no uso do termo privatização tem por objetivo levar o PT para a vala comum de quem, no governo FHC, vendeu o patrimônio nacional

Até as pedras sabem que a concessão das operações dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília nada tem a ver com privatização.

A insistência no uso desse termo tem por único objetivo confundir a opinião pública, arrastando o PT para a vala comum daqueles que, no governo Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), depreciaram e depois passaram para as mãos de particulares grande parte do patrimônio construído com suor e sangue da sociedade brasileira.

Ao contrário do que ocorreu com a privatização promovida pelo governo do PSDB, quando empresas estatais de mineração (Vale), de siderurgia (CSN), de telecomunicações (sistema Telebrás) e a Rede Ferroviária Federal foram passadas para a iniciativa privada (em operações até hoje nebulosas), esses aeroportos continuarão patrimônio do povo brasileiro.

O cidadão que paga aluguel sabe que o imóvel que aluga jamais será seu ao final do contrato. Ele tem duas opções: renovar o aluguel ou devolver o imóvel ao seu dono.

Isso também vai acontecer com os aeroportos quando o prazo de concessão vencer: nem durante, nem ao final da concessão os aeroportos passarão à propriedade das concessionárias. Não se trata de privatização.

A concessão dos aeroportos trará lucros para o país. Esse compartilhamento da gestão em Guarulhos, em Viracopos e em Brasília representou um aporte de recursos da ordem de R$ 24,5 bilhões.

É um dinheiro extra que vai possibilitar ao governo investir na modernização e na construção de novos aeroportos -oito vezes mais do que o valor que foi possível investir desde 2003 para atender à crescente demanda do setor.

E isso será feito não apenas por causa da Copa do Mundo de 2014, mas porque a população brasileira estará cada vez menos pobre. E, em função das dimensões continentais do país, essa população buscará sempre o conforto de um transporte mais veloz e seguro.

Entre o planejamento e as obras civis, a construção de um aeroporto leva tempo. Guarulhos começou a ser pensado em 1967 e teve as suas obras iniciadas em 1980. O início das suas operações aconteceria somente em 1985.

Reflexo da melhoria das condições de vida da nossa população, a evolução da movimentação de passageiros no transporte aéreo do Brasil vem crescendo de forma descomunal desde 2003, ano em que foram transportados 71,2 milhões de passageiros -em 2002, foram 62,6 milhões.

Para se ter uma ideia, a projeção do número de passageiros que seriam transportados em 2015, feita em 2005 pelo antigo DAC (Departamento de Aviação Civil), de 152,6 milhões de passageiros, foi batida em dezembro de 2010, quando o total de passageiros transportados atingiu a impressionante marca de 155,3 milhões.

Em 2011, foram 179,9 milhões, como se quase toda a população brasileira tivesse voado.

O aumento no número de passageiros não ocorreu por acaso. Ele é resultado da política econômica adotada pelos governos do PT desde 2003.

Foi privilegiado o crescimento econômico com geração de emprego e renda. Promoveu-se a maior mobilidade social da história do Brasil, com dezenas de milhões de brasileiros ascendendo à classe média.

Essa gente contribuiu para ampliar significativamente a demanda dos serviços aeroportuários. Além de investimentos em aeroportos, isso exigiu a ampliação da frota e criou oportunidade para o surgimento de novas empresas no setor.

Diante desse crescimento, de fazer inveja às taxas chinesas, é natural que o governo compartilhe com a iniciativa privada a administração de alguns dos seus maiores aeroportos, oferecendo mais agilidade nas operações e mais conforto para os usuários.

Walter Pinheiro é senador pela Bahia e líder do PT no Senado.

Fonte: Portal PT

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Frei Betto: Dilma critica o neoliberalismo

 senhora, presidenta Dilma, foi corajosa ao escolher participar do Fórum Social Temático de Porto Alegre, e não do Fórum Econômico de Davos”, enfatizou João Pedro Stédile, líder do MST, no encontro com dirigentes de movimentos sociais e organizadores do FSM, na capital gaúcha, na tarde de quinta, 26 de janeiro.

Por Frei Betto*, em Adital

Pouco antes, na suíte presidencial do Hotel San Rafael, Dilma Rousseff recebeu o ecoteólogo Leonardo Boff e sua mulher, Márcia Miranda, e a mim, acompanhados do ministro Gilberto Carvalho.

Boff manifestou ceticismo diante do texto preparado pela ONU para a Rio+20, que reunirá na capital fluminense, em junho, chefes de Estado e a Cúpula dos Povos, evento da sociedade civil.

O Esboço Zero, como é conhecido o texto da ONU, é inconsistente; fala em pobreza, mas evita abordar a desigualdade social, e alardeia a "economia verde”, mera falácia para evitar atacar a principal causa da devastação ambiental: o atual modelo predatório de desenvolvimento, baseado na prevalência da riqueza privada sobre direitos humanos e direitos da Mãe Terra.

Às vésperas da viagem da presidente a Cuba, aproveitei para breve análise da conjuntura daquele país, que passa por mudanças substanciais, e no qual atuo, desde 1981, nos temas relações Igreja e Estado e metodologia da educação popular. No dia 9 de fevereiro, viajei a Cuba para participar do Congresso de Educação Superior e proferir palestra sobre Extensão Universitária e Educação Popular. A propósito, a 26 de março o papa Bento XVI inicia viagem de dois dias à Ilha, num reconhecimento da legitimação da Revolução.

Reivindicações e propostas

No encontro com 70 líderes de movimentos sociais, Dilma ouviu seis oradores. Enfatizou-se o repúdio às mudanças no Código Florestal aprovadas no Senado; reivindicaram-se o veto à anistia aos produtores rurais responsáveis por crimes ambientais, a manutenção da reserva legal e a exigência de desmatamento zero. Ao responder, a presidente disse, com todas as letras, que o Código Florestal "não será o dos sonhos dos ruralistas”.

Foram propostos um Programa Nacional de Reflorestamento para a Agricultura Familiar, financiado pelo BNDES; maior empenho na reforma agrária, de modo a assentar 180 mil famílias que continuam acampadas à beira de estradas; e a adoção, em larga escala, da agroecologia, para reduzir drasticamente o volume de agrotóxicos utilizados nas lavouras brasileiras, envenenando o solo e os consumidores.

Sublinhou-se ainda a urgência de regularização das terras indígenas e ocupadas por comunidades quilombolas.

Dilma iniciou sua intervenção frisando que representa um projeto de governo, iniciado pelo ex-presidente Lula, cujos objetivos centrais são reduzir a desigualdade social e imprimir qualidade aos serviços públicos, em especial à saúde, educação e habitação. Acrescentou que, após o fracasso de governos precedentes e tendo em vista a crise europeia, "o Brasil está vacinado contra o neoliberalismo”.

Para a presidente, só foi possível tirar da pobreza 40 milhões de brasileiros, nos últimos nove anos, graças ao modelo de desenvolvimento sustentável que combina crescimento econômico com distribuição de renda. Criticou aqueles que consideram razoável o Brasil crescer apenas 2% ou 3% ao ano com baixo índice de inflação. É preciso crescer mais, gerar riquezas e aquecer a economia interna com distribuição de renda.

Neste momento, enquanto na Europa se processam uma "perda de direitos sociais” e a adoção de ajustes fiscais, declarou Dilma, o Brasil – para o qual Davos olhou com uma ponta de inveja – adota uma política de subsídios a direitos fundamentais, como o acesso à moradia, e a combinação de transferência de renda com qualificação dos serviços públicos.

Dilma considerou "uma barbárie” a desocupação das 1.700 famílias de Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), e manifestou a esperança de que a Rio+20, sobretudo através da Cúpula dos Povos, apresente à crise global um novo paradigma, "um outro mundo possível”.

Alertou ainda que o pós-neoliberalismo não pode coincidir com a pós-democracia... Manifestou, assim, o temor de que medidas tomadas para superar a crise financeira mundial "tornem as agências de risco econômico mais importantes do que os povos que elegeram seus governantes”.

* Frei Betto é escritor, autor de "Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

As pressões da mídia para forçar seu candidato, José Serra, a disputar a prefeitura de São Paulo

O nome do tucano José Serra - duas vezes derrotado em disputas pelo Planalto, em 2002 e 2010 - pode até não estar na urna eletrônica no dia 7 de outubro, 1º turno da eleição municipal deste ano, mas não será por falta de empenho da mídia.

Ela está fazendo o possível e o impossível, para obrigá-lo a entrar na disputa. Absurdos, campanha político-partidária pura, vergonhosa, manipulando, inventando e desinformando seus leitores. E de uma forma canhestra, mal disfarçada, cheia de versões que não batem com a realidade.

José pode até ser candidato - o que duvido -, mas essa farsa que os jornalões estão fazendo - a Folha, já há algum tempo, o Estadão e O Globo entraram na jogada mais recentemente - é política partidária pura.

Querem 1º impor José Serra; depois descontruir seus concorrentes
Querem impor José Serra como candidato para, depois, na etapa seguinte, partir para cima dos outros concorrentes para desconstruí-los. O que estamos lendo e vendo é o de sempre, o uso eleitoral dos jornais, o que é proibido por lei. Mas, se batermos às portas da Justiça vão dizer que é censura - o mesmo, aliás, que eu já sei, dirão destes meus comentários.

Na pressão desencadeada para José Serra sair candidato, a Folha está tentando criar fatos políticos e constranger os protagonistas da eleição municipal deste ano na capital. Ela e o Estadão não escondem a oposição à candidatura petista do ex-ministro da Educação, Fernando Haddad. Contra o qual, aliás, já faziam campanha quando da realização das provas do ENEM.

Agora, vão fazer tudo para manter São Paulo - também a capital - sob jugo e controle tucano. Basta ler as matérias. Tudo forjado e forçado. Não há nenhuma declaração de José Serra, do também tucano governador Geraldo Alckmim ou do perefeito paulistano Gilberto Kassab (ex-DEM-PSDB, agora PSD) para sustentar as versões inventadas e divulgadas, por exemplo, pela Folha.

Na única declaração, Alckmin desmonta versão da Folha
A exceção é uma única declaração do governador Alckmin, exatamente para desmontar toda uma fantasiosa versão na qual se esmerou a Folha. O jornal diz que José Serra "que até agora dizia não ter interesse em disputar novamente a prefeitura, conversou com Alckmin na semana passada e afirmou que estava reconsiderando sua decisão.

Declaração de Alckmin: "Eu não conversei com o Serra nesses últimos dias, então não tenho nenhum fato novo."

Melhor fariam a Folha e os demais jornalões brasileiros se defendessem a candidatura tucana preferida por eles, seja ou não José Serra. Mas, declarada e abertamente. Como fez o Estadão, justiça seja feita, em editorial.

Deviam ter a coragem de assumir seus partidos e candidatos.

E como faz a maioria dos jornais sérios do mundo, que declinam suas preferências político-partidárias, informam disso seus leitores e se engajam em campanhas. A começar pelos Estados Unidos, onde o New York Times, a cada campanha eleitoral presidencial, avisa sobre sua preferência liberal, pelo Partido Democrata e imprime uma linha editorial pró-candidato de sua preferência até no noticiário.

No Brasil nossos jornalões simulam fazer a coisa veladamente. E agora estão desesperados porque expiram os prazos estabelecidos pelo partido deles, o PSDB. Ontem era a data-limite para inscrição de pré-candidatos às prévias do PSDB. E José não se inscreveu. Dia 4 próximo é a consulta aos filiados tucanos para escolherem o candidato do partido a prefeito.

Fonte: Blog do Zé Dirceu

Edinho Silva: PT 32 anos

Nesses 32 anos de vida, o Partido dos Trabalhadores tem muito que comemorar. Fruto da capacidade de organização dos trabalhadores, dos estudantes, dos intelectuais, dos movimentos religiosos, das mulheres, dos negros, dos setores oprimidos e de muitos daqueles que lutavam contra a ditadura militar e por uma sociedade mais justa, o PT tornou-se um instrumento da transformação social, da construção de uma sociedade igualitária e democrática.

Ao longo desses 32 anos, trabalhamos muito para que a democracia fosse reconstruída no nosso País. Para serem sujeitos da sua própria história, os trabalhadores mostraram capacidade de elaboração de um projeto político. Hoje o PT lidera um governo responsável por grandes transformações econômicas e sociais.

O nascimento do PT e a reorganização dos partidos populares permitiram as condições históricas para o surgimento de novos sujeitos políticos. Uma nova cultura política emergiu e aqueles que nunca tiveram vez e voz puderam ser protagonistas de uma nova ordem, ocupando espaços até então reservados para a elite brasileira.

A maior expressão desse processo de organização e luta social é o ex-presidente Lula. Ele simboliza a capacidade de organização e de ação social dos setores oprimidos.

Conseguimos ganhar Prefeituras, eleger vereadores, deputados estaduais e federais, senadores e governadores. Crescemos! Um operário se elegeu presidente da República. Lula mostrou ao mundo que um retirante nordestino, um sobrevivente da miséria, era capaz de transformar um país em uma nação na qual todos os seus filhos pudessem visualizar o futuro. Hoje, o Brasil de Lula é símbolo de governança para o mundo. Simbolizamos a capacidade de crescer economicamente com justiça social.

Não há como negar: o Governo Lula transformou a história do povo brasileiro, principalmente da população mais sofrida. Quando duvidaram que era impossível um governo combater a miséria e a fome, ele provocou a ascensão social de mais de 30 milhões de brasileiros. A maior inclusão social da história da humanidade.

E foi o PT quem liderou mais uma quebra de paradigma elegendo pela primeira vez uma mulher presidenta da República. Dilma consolida e avança o projeto político de um país justo, que lidera a América Latina na busca de uma geografia política com distribuição de riquezas e liberdades irrestritas. Um Brasil que chama a atenção do mundo para a opressão histórica da África.

Essa é a história destes 32 anos. Uma história de lutas e vitórias. É essa história que nos inspira. Vamos continuar trabalhando para que o nosso país se consolide como uma sociedade realmente justa e igualitária.

O PT nunca caiará na cilada do comodismo. Será sempre o partido da irreverência em relação a tudo que é dado como trivial na política. A busca de novos objetivos, a capacidade de inovar e de fazer a sociedade refletir permanentemente sobre seus valores impedem que o PT perca sua inquietude original. Inquietude que se mantém viva na maturidade dos seus 32 anos de existência.

Edinho Silva é deputado estadual e presidente PT do Estado de São Paulo

Fonte - ABCD Maior

Privatizações: o Verdadeiro Debate – Por Marcelo Zero

A concessão de três grandes aeroportos brasileiros à iniciativa privada pelo governo Dilma vem produzindo um festival de sandices variadas. No FEBEAPÁ conservador que se seguiu ao anúncio há de tudo: críticas ao PT por ter “demonizado” o tema das privatizações em épocas eleitorais, diatribes contra a posição “ideológica” dos que se opuseram à sanha privatista de governos tucanos e afirmações bombásticas, à la Fukuyama, de que o debate sobre as privatizações está “encerrado” e que os privatistas “ganharam”.

De sua parte, o governo e o PT vêm fazendo um esforço para mostrar que há uma abissal diferença entre as privatizações realizadas na década de 90, que se caracterizaram pela transferência definitiva do patrimônio público à iniciativa privada a um preço aviltado, e a concessão feita pelo governo Dilma, sem transferência de patrimônio, por tempo limitado, com preços alentados, e cercada de cuidados administrativos, políticos e jurídicos. 

Pois bem, muito embora essa distinção técnica entre privatização “estrito senso” e concessão seja tecnicamente correta e relevante, parece-nos que o debate que está pautado em todo o mundo sobre as privatizações vai muito além dessa mera questão técnica e semântica.   

Na realidade, o que vem sendo debatido há algum tempo é se as privatizações feitas na esteira do predomínio recente do paradigma neoliberal produziram os efeitos desejados. Também se discute quais os limites que a intervenção direta do Estado na economia deveria ter e qual o papel que a iniciativa privada pode desempenhar na eventual prestação de funções e serviços públicos. A questão essencial, no entanto, tange à necessidade de que o Estado não perca, em nenhuma circunstância, a capacidade de implantar políticas públicas em quaisquer setores econômicos que julgar relevantes, seja para promover o desenvolvimento nacional, seja para incorporar setores excluídos aos benefícios proporcionados por serviços públicos.

A este respeito cabe assinalar, em primeiro lugar, que a iniciativa privada tem, obviamente, uma importante função em qualquer país capitalista. E o capitalismo, ao menos aparentemente, não está mais em discussão no Brasil. O que está em debate, desde o fracasso do modelo neoliberal nestas paragens e no mundo inteiro, é qual tipo de capitalismo nós queremos. Se o capitalismo selvagem, predatório, concentrador e desregulado, que levou o planeta a sua pior crise desde 1929, ou uma outra forma de capitalismo que, recuperando os princípios do “capitalismo regulado” da Era de Ouro à qual se referiu Hobsbawn, consiga tirar o mundo da crise e promover nova era de prosperidade, com sustentabilidade social e ambiental.

O debate sobre as privatizações se insere, portanto, neste debate maior. A depender das distintas diretrizes dadas por esse debate fundamental, o papel do Estado e da empresa privada no desenvolvimento e a modelagem de eventuais processos de privatização serão bem diferentes.

Em relação a isso, há, assinale-se, exemplos históricos muito contrastantes.  Os mais elucidativos tangem à União Soviética é à China, economias de monopólio estatal que migraram, de diferentes modos, em tempos históricos também bastante diferenciados, para distintas “economias de mercado”.

Na antiga União Soviética, o colapso político do regime levou a um processo célere e descontrolado de transição para a “economia de mercado”.  Aconselhados por economistas ocidentais e, em alguns casos, pela vodka, os dirigentes da época resolveram vender às pressas muitas empresas e abrir a economia aos investimentos e à concorrência internacional. A ideia básica era realizar uma “terapia de choque”, um “choque de gestão” que aumentasse rapidamente a eficiência econômica geral e assegurasse, por outro lado, a consolidação de um regime democrático, já que as duas coisas, “economia de mercado” e “democracia”, eram identificadas como sinônimos. Seduzidos pela miragem neoliberal, os dirigentes acreditaram que, em pouco tempo, dada a sua sólida base industrial e a aos seus vastos recursos naturais, a Rússia se tornaria uma pujante economia capitalista.

O resultado, porém, foi um completo desastre. Em apenas cinco anos (1990 até 1994), a economia russa encolheu 76%. O desemprego e a informalidade, praticamente inexistentes no período do anterior, chegaram a níveis estratosféricos e até a expectativa de vida dos habitantes encolheu drasticamente. Criou-se uma espécie de “capitalismo mafioso”, que produziu vários bilionários corruptos e uma vasta população de deserdados e perdedores.  E o novo Estado, extremamente fragilizado e apoderado por interesses privados, perdeu a sua capacidade de implementar políticas públicas consistentes.

Já a China fez o oposto. Em primeiro lugar, ignorou completamente o ideário neoliberal, tão em voga na época, e resolveu construir seu próprio caminho. Cautelosamente, foi implementando aos poucos o que se chama lá de gaizhi ou “mudança do sistema”, que inclui a diversificação das formas de administração das empresas, seja pela privatização, seja pela descentralização. Em todos os casos, no entanto, houve a preocupação de manter a centralidade do Estado na gestão estratégica da economia.

Hoje em dia, a China tem três grandes tipos de empresa. Há as grandes empresas estatais, concentradas em algumas áreas chave, como sistema financeiro, energia, telecomunicações, etc. Tais empresas ditam o ritmo da acumulação na China e fazem os grandes investimentos estruturantes. Há também as empresas que se associam às empresas estrangeiras que têm tecnologia avançada, mediante joint ventures. Nesses casos, as empresas estrangeiras participam do mercado chinês tendo como contrapartida necessária a efetiva disponibilização de suas tecnologias. Esse esquema vem permitindo à China desenvolver tecnologia moderna e inovadora em vários campos importantes, como na informática e na indústria automobilística. Por último, há empresas, em geral privadas, que atuam em áreas novas, não exploradas pelo Estado.

Mas, mesmo nesse último caso, a influência do Estado é grande. E por quê? Porque na China o crédito é vastamente estatal. O Estado tem o rígido controle do sistema financeiro e do crédito, que é oferecido em condições facilitadas às empresas, desde que elas cumpram as políticas públicas. Por isso, a conservadora revista The Economist chama o capitalismo chinês de “capitalismo confinado”. No entanto, foi justamente esse capitalismo confinado que transformou, em menos de três décadas, um país agrário na segunda maior economia industrial do planeta. Deng Xiaoping, o grande artífice da abertura chinesa, dizia que não importava a cor do gato, o importante era que caçasse ratos. Pode-se acrescentar que, na China, os gatos de todas as cores caçam os ratos que o Estado quer, e na forma como o interesse publico exige.

E no Brasil? Em nosso país, assim como em boa parte da América Latina, as privatizações se deram, tal como na Rússia, no auge do predomínio do paradigma neoliberal, que exigia a imolação do Estado, a abertura incondicional das economias e, em muitos casos, a “flexibilização” de direitos trabalhistas e previdenciários. Assim, ao contrário do que se diz, as privatizações aqui nunca foram exatamente uma “questão de eficiência”, mas sim uma “questão ideológica”. Exigia-se a rápida implantação do Estado mínimo e do receituário do Consenso de Washington para impedir que o país perdesse o “trem da História”, propiciado por uma globalização irreversível e benéfica. De um modo geral, não houve planejamento adequado e nem a preocupação de manter a capacidade do Estado de implementar políticas públicas consistentes. A ordem era simplesmente vender ou conceder. E fazê-lo rápido, de modo a fazer caixa para o país endividado.  A suposição ideológica do processo era a de que a iniciativa privada é sempre mais eficiente do que o Estado e, portanto, o resultado inexorável seria, em quaisquer circunstâncias, a melhoria e o barateamento dos serviços, bem como o aumento da competitividade geral da economia. Os dirigentes brasileiros e russos se aconselharam com os mesmos economistas.

Entretanto, o resultado dessas privatizações/concessões açodadas e ideológicas foi, de um modo geral, ruim. Os preços obtidos nos leilões foram normalmente baixos, como no caso da Vale, por exemplo. Houve transferência maciça de patrimônio público e, no caso específico das concessões, verificou-se, a posteriori, aumento exagerado das tarifas e baixa qualidade dos serviços prestados. O resultado mais negativo foi, contudo, a perda da capacidade do Estado brasileiro de implementar políticas públicas nos setores privatizados. Isso ficou bastante evidente, recentemente, no caso das telecomunicações, sempre mencionadas pelos defensores daquelas privatizações como um “grande êxito”. Com efeito, a implantação do Plano Nacional de Banda Larga, estratégico para o país, exigiu a recriação da Telebrás, pois as grandes empresas privadas do setor resistiam, e ainda resistem, a fazer os investimentos necessários, principalmente nas áreas mais pobres do Brasil.

Na Argentina, ocorreu a necessidade de reestatizar totalmente algumas empresas, como as Aerolíneas Argentinas, por exemplo, para poder manter os serviços funcionando, dada a administração desastrosa e irresponsável dos grupos econômicos privados que assumiram tais funções. No Brasil, a fragilização só não maior porque houve grande resistência, capitaneada, entre outros, pelo PT, à privatização do sistema financeiro e de algumas empresas estratégicas, como a Petrobras.

E é justamente por causa desses resultados, em geral negativos, apresentados pelas privatizações realizadas nos anos 90 no Brasil e na América Latina, que o processo privatista não tem uma boa imagem pública. Assim, quando os defensores daquelas privatizações acusam o PT de demonizá-las para fins eleitorais, eles estão implicitamente reconhecendo o fracasso do processo.  Com efeito, se o processo das privatizações feitas no contexto ideológico-político do neoliberalismo tivesse sido verdadeiramente exitoso, com benefícios claros para a população e o país, o PT e outros partidos de esquerda não poderiam usá-lo contra seus adversários. Seria o contrário: os partidos conservadores utilizariam o exemplo “evidentemente exitoso” das privatizações contra seus adversários, inclusive o PT. Por que jamais o fizeram?

Tal fracasso não significa, é óbvio, que numa economia capitalista como a brasileira, não se possa fazer novas concessões para que a iniciativa privada atue. O PT, em suas administrações municipais e estaduais, sempre fez ou manteve concessões à iniciativa privada, como na área do transporte público, por exemplo.

Por certo, só o tempo dirá se as concessões dos três aeroportos brasileiros serão verdadeiramente exitosas e redundarão em melhores serviços e preços módicos para o consumidor. Porém, está claro que, neste caso específico, houve, ao contrário do que acontecia no passado, a preocupação de cercar-se de cautelas e de manter a estratégica capacidade do Estado implantar políticas públicas para o setor. Dessa forma, caso as empresas não deem as respostas adequadas, não temos dúvidas de que o processo será revertido, assim como não temos dúvidas também que, caso tais concessões tivessem sido feitas pelos privatistas ideológicos de antanho, não teria havido essa mesma cautela e, junto com a prudência e racionalidade, o patrimônio da Infraero teria sido devidamente vendido na “bacia das almas”.

Numa coisa as viúvas ideológicas do falido paradigma paleoliberal têm razão: o verdadeiro debate sobre as privatizações terminou. Ganharam aqueles, como o PT, que foram críticos do modelo neoliberal e das privatizações ideológicas e que sempre se bateram por um Estado forte que assegurasse, nas políticas públicas, a inclusão dos historicamente excluídos, com ou sem a participação da iniciativa privada. Já aqueles que se curvaram, por interesse ou ideologia, às exigências de um capitalismo desregulado e que fizeram o possível para reduzir politicamente o Estado, concentrar renda e inviabilizar a construção de um projeto estratégico viável para o país perderam. Perderam o debate e as eleições.

Marcelo Zero é assessor técnico da Liderança do PT no Senado

Fonte: PT no Senado

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Petistas lamentam morte de presidente da Comissão Pastoral da Terra

Os deputados petistas Assis do Couto (PR), Beto Faro (PA) e Padre João (MG), integrantes do Núcleo Agrário do PT, lamentaram o falecimento, ocorrido na segunda-feira (13), do presidente da Comissão Pastoral da Terra, Bispo Dom Ladislau Biernaski. O bispo estava internado há pouco mais de uma semana em razão de um câncer e morreu devido à múltipla falência dos órgãos. “A morte de Dom Ladislau é uma perda irreparável, principalmente para aqueles amam a terra e sempre lutaram por justiça no campo. Por causa da luta dele, e de tantos outros, é que hoje milhares de famílias assentadas possuem um pedaço de terra para viver e plantar ”, afirmou Assis do Couto.

O deputado Beto Faro lembrou que Dom Ladislau era referência na luta por justiça no campo. “Os homens e as mulheres que lutam por justiça no campo estão de luto. Dom Ladislau era uma importantíssima referência na organização da luta dos camponeses. Espero que a CPT, o Movimento Sem Terra, e os Sindicatos de Trabalhadores Rurais de todo o país, continuem o trabalho realizado por ele nos últimos anos”, destacou.

Para o deputado Padre João, a morte do presidente da CPT é uma grande perda para a sociedade e para a igreja. “Dom Ladislau sempre esteve, junto com a CPT, à frente da luta de homens e mulheres por mais justiça no campo. Essa é uma grande perda não apenas para a sociedade e os movimentos sociais, mas principalmente para a Igreja”, lamentou.

Biografia - Dom Ladislau Biernaski tinha 74 anos e desde 2007 estava à frente da diocese de São José dos Pinhais. Antes disso, foi durante 25 anos auxiliar de Dom Pedro Fedalto na Arquidiocese de Curitiba. Ele ainda foi presidente nacional da Comissão Pastoral da Terra e membro do Conselho Permanente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Fonte: PT na Câmara

Osasco: João Paulo tem 78% de intenção de votos para prefeito

Em pesquisa realizada pelo Instituto OP-DATA no mês de janeiro, o deputado federal e pré-candidato do PT de Osasco para prefeitura, João Paulo Cunha, apareceu com 78% de intenção de votos. A pesquisa teve 2.002 entrevistados em 8 zonas eleitorais no município de Osasco e a margem de erro é de 2 pontos.

A coleta de amostras do eleitorado foi realizada, segundo dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de forma aleatória seguindo critérios de sorteios múltiplos em quatro estágios: 1) Bairros, 2) Ruas, 3) Domicílios e 4) Entrevistados.

Para analistas políticos da cidade, nunca houve na história das eleições no município um resultado assim tão positivo para um candidato.

Fonte: CNB - SP

Dilma: Felizmente, Petrobras sobreviveu a ventos privatistas

Para Dilma, a Petrobras, hoje a segunda maior petroleira de capital aberto do mundo, é “fruto de um movimento popular, de um movimento cívico, nacional, que mobilizou nosso país” e “surgiu graças à visão de um estadista, Getúlio Vargas, a quem devemos sempre render a nossa homenagem”.

A combinação de “movimento popular” e “visão de um estadista” foi fundamental, disse Dilma, para dar origem a “uma parceira do povo brasileiro” e a "uma das partes mais relevantes do esforço desse país de se constituir em uma grande nação”.

Hoje, depois de quase seis décadas de vida, assinalou a presidenta, a estatal tornou-se “poderosa” globalmente, num mercado “assimétrico e agressivo”, como o do petróleo. Também ajuda a gerar emprego e renda para brasileiros, apoia a indústria brasileira ao manter uma política de compras mínimas dentro do país.

Até 2015, a companhia vai investir US$ 224 bilhões, volume que, para José Sérgio Gabrielli, substituído por Graça Foster, a primeira mulher a presidir a Petrobras e a comandar uma gigante petroleira no mundo todo, tem “escala necessária para fazer prosperar a indústria nacional”.

Na avaliação de Dilma, a Petrobras conquistou, nos últimos nove anos (governos Lula e dela), um gigantismo que é difícil resumir em números.

“A Petrobras é poderosa em escala mundial e é estratégica dentro do Brasil”, afirmou Dilma. “Felizmente, sobreviveu a todos os ventos privatistas e persistiu como empresa brasileira, sob controle do povo brasileiro, e hoje exerce papel fundamental em nosso modelo de desenvolvimento.”

A referência de Dilma a “ventos privatistas” foi feita dias depois de governo e PT terem sido alvo de tentativa de desgaste político por adversários de PSDB e por alguns setores com um perfil mais à esquerda, por conta do leilão que transferiu três aeroportos federais à gestão privada.

Para os tucanos, houve privatização e foi bom que o PT tenha se rendido à tese. Para os setores descontentes da esquerda, houve privatização e foi ruim que o PT a tenha praticado.

Já governo e petistas rebatem que não houve privatização, pois os aeroportos serão administrados pelo Estado de novo quando a concessão ao setor privado terminar, daqui 20 anos a 30 anos.

Dizem ainda que o motivo do leilão foi diferente das privatizações da era FHC – não se quis enxugar o Estado, apenas contornar a falta de recursos para investir e os entraves burocráticos próprios da gestão pública à realização dos investimentos, que a Copa do Mundo de 2014 impõe que sejam ágeis.

Fonte: Carta Maior

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

José Candido - deputado que pautou sua trajetória política em benefício da sociedade paulista

Faleceu na manhã deste domingo 12/2, o deputado estadual petista, José de Souza Candido, aos 70 anos. O parlamentar estava internado, desde 12 de janeiro, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para onde foi transferido a fim de recuperar-se de uma parada cardíaca sofrida na seqüência da realização de uma cirurgia de pedra na vesícula.

No sábado, o deputado apresentou complicações em seu quadro clínico e voltou à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Sírio, mas não resistiu.

José Candido foi presidente da Comissão de Direitos Humanos na Assembleia Legislativa de São Paulo de 2008 a 2011, onde atuou em defesa dos interesses da sociedade paulista, com ênfase na garantia de direitos das comunidades carentes, na defesa dos direitos humanos e da luta pela igualdade racial.

Homem do povo de origem simples começou sua trajetória em defesa dos direitos dos trabalhadores aos 19 anos, iniciou como líder comunitário, líder do sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade de Oriente e região. Eleito vereador da cidade de Suzano, por três mandatos e como deputado estadual foi um exemplo de virtude e compromisso com a constituição de uma sociedade mais justa, igualitária e consciente de seus direitos.

Lavrador e metalúrgico, José Candido nasceu em Sabino, no Oeste paulista, e morou em Suzano, na Grande São Paulo, há mais de 30 anos. Foi vereador por três mandatos e eleito deputado estadual em 2006, tendo sido reeleito em 2010.

Pai de Marcelo Candido, prefeito de Suzano, José Candido ajudou a construir o PT, o partido de Lula, Dilma e Marcelo. Deputado estadual ficha limpa, esteve sempre ao lado dos que mais necessitavam. Agiu assim como vereador por três mandatos em Suzano e como deputado estadual.

Dentre tantas iniciativas que trouxeram conquistas de cidadania à sociedade paulista, duas delas alcançadas recentemente provocavam especial alegria ao deputado José Candido.

O reconhecimento da posse da Fazenda Eureka, pela Comunidade Quilombola do Cafundó, localizado no município de Salto de Pirapora, em dezembro do ano passado, e formalizado há dez dias, em 2 de fevereiro, teve significativa participação do deputado.

Candido foi parceiro dos quilombolas, esteve no local por diversas vezes e com as lideranças participou de audiências na sede do Incra em Brasília e na superintendência em São Paulo, na busca pela efetivação deste direito.

Em 2009, o deputado José Candido destinou uma emenda de R$ 15 mil para a Associação, que foi utilizada para a construção de uma estufa que hoje está em plena produtividade, ajudando na geração de renda dos quilombolas.

A partir do mês de agosto do ano passado o consumidor paulista, obteve mais uma recurso em defesa dos seus interesses, graças a lei de autoria do deputado José Candido.

A lei determinou que todas as empresas de call Center ou outras formas de venda à distância, atuantes no Estado de São Paulo, passaram a ser obrigadas a encaminhar por escrito, aos consumidores, os contratos firmados verbalmente.

A propositura estabeleceu ainda que as empresas deverão enviar o contrato até o décimo quinto dia útil após a efetivação verbal do mesmo. E que o consumidor terá o prazo de sete dias úteis, após o recebimento do contrato, para rescindi-lo de forma unilateral.

Confira abaixo a trajetória de José Candido:

1971 - O começo da militância
Mais velho de quatro irmãos, assumiu o sustento da família aos 11 anos, ao ficar órfão. Trabalhou até os 21 anos nas lavouras da Alta Paulista. Foi diretor-fundador do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Oriente e depois fez um curso de torneiro mecânico no Senai de Marília.

Em 1969 mudou-se para o bairro de Itaquera, em São Paulo, e, dois anos depois, vai para Suzano. Mora no Jardim Luela de aluguel e, em 1974, fixa-se no Jardim Revista.

1982 - O líder comunitário
No Jardim Revista, fundou a comunidade católica, da qual foi patrono da 1ª formatura, e ajudou a construir o centro comunitário, espaço onde as famílias se reuniam. Indignado com a situação no bairro, passou a cobrar melhorias. “Quando cheguei com minha família ao Jardim Revista, em Suzano, não tinha água, luz, asfalto, não tinha nem padaria”, conta Candido.

Em 1982, José Candido disputou sua primeira eleição. Faltaram poucos votos para se tornar vereador, mas tornou-se uma liderança. Começou a ser procurado por moradores de outros bairros para encaminhar demandas.

1988 - 3 vezes vereador
Em 1988, José Candido disputou sua segunda eleição, de novo para vereador, pelo PT. E saiu vitorioso. Tomou posse em 1º de janeiro de 1989.

Na Câmara, passou a ser o representante dos moradores mais carentes, que viviam em áreas quase sem nenhuma estrutura. Mais do que isso, lutou pela regularização de bairros da divisa com Itaquaquecetuba e Mogi, onde as pessoas viviam uma situação indefinida: não sabiam a qual cidade pertenciam. Ajudou a levar água, luz e asfalto para essas famílias. Foi reeleito vereador mais duas vezes, tendo lugar na Câmara de 1989 a 2000.

2001 - A liderança do Alto Tietê
Ao deixar a Câmara Municipal, em 2000, José Candido expandiu sua atuação. Coordenou por cinco anos o PT na macroregião do Alto Tietê. Militante na questão racial, ajudou a fundar o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Sociocultural Negro Sim (em Suzano), além de ter participado do Grupo União e Consciência Negra e do MNU (Movimento Negro Unificado).

Preocupado com o meio ambiente, defendeu a preservação do Tietê. Sem esquecer as pessoas, como na luta por moradia digna para quem vivia às margens do rio.

2002- PT na Presidência e na Prefeitura
Em 2002 o PT conquista, pela primeira vez, a Presidência da República. A vitória do presidente Lula representa a consolidação de um jeito petista de governar, que se preocupa com as pessoas, que trabalha para garantir direitos e realizações para todos.

Na mesma eleição, Marcelo Candido é eleito deputado estadual para representar o Alto Tietê na Assembleia. Em 2004, Marcelo vence a eleição para a prefeitura de Suzano e começa a governar a cidade para que todos possam se beneficiar das riquezas geradas pela economia. Acabam os privilégios de poucos. É a vitória de uma luta realizada por José Candido ao longo de toda a sua vida.

2007 - Um novo desafio
Em 2006, o Brasil confirma a confiança no governo Lula e o reelege para mais quatro anos na Presidência. Mas, no Estado de São Paulo, havia a necessidade de reforçar a defesa das conquistas do governo do PT. José Candido renova seu compromisso com as demandas populares e se candidata para uma vaga na Assembleia.

Com 58.932 votos, é eleito deputado estadual. Se destaca nas áreas de combate ao racismo, meio ambiente e direitos humanos, com olhar atento para todo o Estado. Em 2008 é eleito presidente da Comissão Permanente de Direitos Humanos, função que ocupou por dois mandatos consecutivos.

Suas emendas ao Orçamento do Estado tiveram foco em saúde, pavimentação, construção de rede de esgoto, educação, cultura e esporte.

2010 - Em defesa das nossas conquistas
José Candido ajudou a construir o PT, partido de Lula, Dilma e Marcelo Candido. Deputado de ficha limpa, esteve sempre do lado certo: dos que mais precisam, na luta por uma vida mais digna, com moradia, saúde e educação de qualidade. Candido tem dedicado sua vida e seus mandatos a combater os preconceitos de classe, religião e raça. “Vi essa cidade (Suzano) crescer, a vida melhorar, e tenho orgulho de ter colaborado nessa construção. Mas há muito a ser feito. Me comprometo a continuar na defesa de nossas conquistas em todo o Estado e seguir na luta por um futuro cada vez melhor”, ressaltou Candido.

2011 – Segundo mandato
Reeleito para deputado estadual em 2010, com 68.212 votos, José Candido tomou posse para seu segundo mandato em 15 de março de 2011, na Assembleia Legislativa. Suas principais bandeiras de atuação continuarão sendo a Igualdade Racial, Meio Ambiente e Direitos Humanos. As novidades deste novo mandato foram o a incorporação da bandeira da Cultura, que se torna um novo eixo de atuação e o Conselho Político que é composto por colaboradores de diversos segmentos que ajudarão à pautar o mandato. “Após esta primeira experiência no Parlamento Paulista, sinto-me mais preparado para este segundo mandato, quero continuar contribuindo para o bem estar dos cidadãos e cidadãs de todo o Estado de São Paulo” – José Candido.

Fonte: Imprensa PT Alesp

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Os 32 anos do PT e o cinquentenário de Osasco

Nosso partido completou 32 anos de fundação no dia 10 de fevereiro com diversos feitos a celebrar e grandes projetos para o futuro.


Após acabarmos com a sequência de governos elitistas que comandaram o país por 500 anos, colhemos os avanços iniciados pelo governo Lula e continuados pela presidente Dilma Rousseff.

A ascensão de mais de 30 milhões de famílias à classe média, o acesso de um milhão de jovens à universidade por meio do ProUni, as moradias de qualidade do Minha Casa, Minha Vida, a melhoria da renda dos trabalhadores, com a valorização do salário mínimo, entre outras ações etc.

É importante lembrar que nos governos Lula e Dilma o Brasil manteve sua estabilidade econômica durante severas crises internacionais, algo impossível de se imaginar em governos passados.

Esses avanços resultam da luta do Partido dos Trabalhadores por um grande projeto, que tem de se ampliar mais e mais por todos os cantos do Brasil.

E Osasco chega ao seu primeiro cinquentenário, dia 19 de fevereiro, colhendo os frutos de uma grande afinidade histórica com nosso partido.

O PT Osasco esteve presente ativamente em momentos importantes da história do país. A luta pelas Diretas Já, em 1984, que juntou 20 mil pessoas no Largo de Osasco; o Fora-Collor, em 1992; a luta pelo Passe Livre. Além disso, antes mesmo da fundação do PT, militantes históricos do partido estiveram presentes em movimentos como a greve da Cobrasma, em 1968.

Em 2004, com a primeira eleição do prefeito Emidio de Souza - e com Lula na presidência -, o PT iniciou um grande projeto de uma transformação positiva em Osasco.

São favelas urbanizadas, melhorias na educação, com ações como a construção de dois CEUS, infraestrutura, projetos de qualificação e melhoria de renda da população etc. Na economia, se o PIB do município era o 25º do país há alguns anos atrás, hoje é o 12º, à frente de diversas capitais, um grande orgulho para os osasquenses.

E a população reconhece todos esses avanços. Provas disso foram a reeleição de Emidio no primeiro turno, em 2008, e o fato de Dilma Rousseff ter sido a candidata à presidência mais votada no município.

O PT chega aos 32 anos orgulhoso de tornar Osasco uma cidade muito melhor em seu primeiro cinquentenário. Nas próximas eleições municipais, temos de nos preparar e apresentar um projeto capaz de tornar Osasco ainda mais próspera nos próximos 50 anos.

Lembro que em 1989 Lula foi o candidato á presidência mais votado em Osasco, apesar da manipulação da Globo. E nós, petistas osasquenses, temos motivos de sobra para ter cada vez mais orgulho de fazer como diz a histórica letra de campanha de Lula: “Bote essa estrela no peito, não tenha medo nem pudor...”


*Valdir Roque é presidente da Companhia de Municipal de Transporte de Osasco, a CMTO e atual coordenador do PT na Macrorregião de Osasco

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A cada três minutos, um trabalhador europeu morre por causa do seu trabalho

No momento em que os planos de austeridade se multiplicam, em que o desemprego parcial se banaliza, em que o tempo de vida no trabalho aumenta um pouco por todo o lado, qual é o estado de saúde dos assalariados europeus?

As desigualdades sociais na saúde no trabalho permanecem fortes. Para esperar viver até velho, mais vale ser quadro que operário e operário que jovem precário.

Basta! - Como estão os trabalhadores europeus?

Laurent Vogel¹ - Assistimos a uma deterioração da saúde no trabalho a longo prazo. O problema é menos o impacto imediato das condições trabalho na saúde que a acumulação de danos na saúde ao longo do tempo. No quadro do inquérito europeu sobre as condições de trabalho², quando se pergunta aos trabalhadores se eles se sentem capazes de trabalhar até à idade de 60 anos, as respostas negativas são importantes. Manifesta-se um efeito de desgaste: só 44% dos operários não qualificados pensam poder aguentar até os 60 anos e apenas metade dos operários qualificados. As diferenças são grandes segundo o lugar na hierarquia social, porque a proporção daqueles que pensam poder aguentar sobe até 71% para os empregados mais qualificados. Existe assim um fosso entre os operários menos qualificados e as pessoas que têm qualificações elevadas. Na França, os operários morrem seis anos e meio mais cedo que os quadros superiores. Na Estônia, a diferença da esperança de vida de um homem de 25 anos licenciado e de um homem da mesma idade que possua um nível de educação mais baixo sobe para 13 anos. A situação das mulheres é mais favorável que a dos homens em setores em que as consequências imediatas do trabalho são menos percetíveis. Mas,a longo prazo, as mulheres perdem a vantagem. Elas são confrontadas ao longo da sua vida com uma organização mais disciplinada do trabalho.

Num contexto em que o tempo de vida no trabalho se prolonga...

Tudo isto é efetivamente inquietante quando em muitos países europeus a idade da reforma e a duração do tempo de trabalho ao longo da vida se prolongam. Esta lógica simplista que visa afirmar que aumentando a esperança de vida o tempo de trabalho ao longo da vida deve igualmente aumentar arrisca-se a ter efeitos perniciosos. As condições de trabalho atuais tornam esse objetivo impossível para uma grande parte da população.

460 pessoas morrem a cada dia na Europa devido a acidentes e doenças ligadas ao trabalho (168.000 por ano segundo a Comissão dos assuntos sociais do Parlamento Europeu). As mortes ligadas ao trabalho têm tendência a diminuir?

É, na minha opinião, uma estimativa muito baixa. Ela tem em conta os acidentes de trabalho mas também as patologias mortais provocadas pelo trabalho, principalmente o cêncer. Os acidentes de trabalho mortais constituem uma pequena parte destas mortes: cerca de 6.000 por ano. Têm tendência a diminuir. Em primeiro lugar, porque os setores econômicos mudam: há menos empregos na siderurgia ou nas minas, setores mais expostos aos acidentes. Depois, graças a uma melhoria das condições de trabalho e da prevenção da segurança. Observamos entretanto um claro aumento dos cênceres com origem profissional. Isto explica-se provavelmente por um melhor conhecimento dos diferentes tipos de cêncer – estamos em melhores condições de dizer que um determinado câncer é provocado por determinada atividade. Mas vivemos também num modelo econômico muito dependente das substâncias químicas. Um ponto suplementar do PIB equivale a um aumento de 1% das substâncias químicas perigosas produzidas pela indústria. Segundo certas estimativas, cerca de 28% dos trabalhadores estão expostos a substâncias cancerígenas³. Os operários estão muito mais expostos que os empregados e os quadros superiores são os que estão melhor. No caso das doenças mentais e dos suicídios, que podem estar ligados, não dispomos de dados de conjunto credíveis. Mas o fenômeno existe por toda a Europa, não só na França como o mostrou o drama dos suicídios na France Télécom.

Em matéria de prevenção dos riscos no trabalho, qual é a amplitude das desigualdades na Europa?

Isso depende dos setores e dos tipos de prevenção. Na Alemanha, por exemplo, se as práticas de prevenção são mais avançadas em matéria de acidentes de trabalho, não o são de forma alguma no que diz respeito aos cênceres profissionais. Isto explica-se pelo peso da indústria química. Em geral, quanto mais fortes são as desigualdades na sociedade, mais importantes são as desigualdades resultantes do trabalho. O nível de prevenção depende também das capacidades de mobilização coletiva neste ou naquele setor. Na França, o ponto positivo, comparado com outros países europeus, é a relativa visibilidade desta questão desde a revelação do escândalo do amianto. As condições de trabalho estão presentes no debate público. É uma base para encontrar respostas eficazes. Outra questão: o lugar do trabalho e das condições de trabalho na estratégia global dos sindicatos. Em Espanha, por exemplo, no setor da construção, a saúde no trabalho foi colocada no centro das reivindicações sindicais. E as coisas mexem. Na França, os sindicatos são menos fortes do que noutros países da Europa, mas o lugar que eles dão às condições de trabalho situam-se numa média alta. Com um obstáculo: quanto mais precário é o emprego, menos possíveis são as mobilizações.

A esse respeito, a Comissão dos assuntos sociais do Parlamento Europeu nota “a proliferação das formas de emprego atípicas (trabalho temporário, sazonal, dominical, a tempo parcial, teletrabalho)”. Estes empregos precários têm impacto na saúde dos trabalhadores?

As jovens gerações estão principalmente preocupadas pela multiplicação destas formas de emprego. Entre os jovens que têm entre 20 e 30 anos, os fatores de precariedade jurídicos são dois ou mesmo três vezes mais importantes que entre os mais velhos. E isto em toda a Europa. Qual será o seu estado de saúde daqui a duas ou três décadas? Se cada um sofrer cinco anos de precariedade antes de encontrar uma forma de emprego estável, isso não será muito pesado. O problema é que a duração destes empregos precários prolonga-se. Para certas categorias, estes empregos atípicos tendem a tornar-se a regra! Na Holanda, três quartos das mulheres trabalham a tempo parcial. Esta proporção é de um terço para o conjunto da União Europeia. Os dados fornecidos pela Cáritas, e que estão disponíveis também no resto da Europa, mostram a correlação entre a precariedade em termos de emprego e o aumento das tentativas de suicídio. Existe também uma precariedade que se pode descrever e quantificar – o número de contratos a prazo, contratos de trabalho temporário, sazonal... - e uma precariedade de fato, mais difícil de medir estatisticamente. Ela está ligada às situações de sub-contratação: pessoas com contrato a prazo indeterminado são contudo precários porque o seu emprego pode ser posto em causa em qualquer momento, pelo fato, por exemplo, de um diretor decidir que vai mudar de sub-contratado por razões de menores custos. São situações correntes no setor da limpeza, onde a forma do contrato não tem, ao fim e ao cabo, qualquer incidência no nível de precariedade.

François Hollande4 propõe que se aplique “um dispositivo de classificação social que obrigue as empresas com mais de 500 trabalhadores a certificarem anualmente a gestão dos seus recursos humanos em critérios da qualidade do emprego e das condições de trabalho”. Pensa que isto pode ser útil?

Delegar em peritos externos à empresa a elaboração de critérios não é, segundo penso, uma prioridade. Todos os tipos de empresas de consultoria estão prontos a dar qualquer tipo de certificado, com este ou aquele “rótulo social”. Mas muitos dos aspetos das condições de trabalho nunca irão entrar nas suas grelhas de avaliação. A Saint-Gobain no Brasil, por exemplo, tinha obtido todas as certificações possíveis e inimagináveis... mas a empresa usava o amianto. As avaliações externas estudam os procedimentos: existe uma comissão para a igualdade salarial? Há um médico do trabalho na empresa? As formações são implementadas? O problema é que os próprios procedimentos não dão forçosamente resultados eficazes. O respeito deste ou daquele procedimento não dá qualquer garantia sobre as condições de trabalho.

Qual deve ser então a prioridade?

O ponto importante seria reforçar o controle coletivo: a possibilidade dos trabalhadores estarem representados, com direitos associados a essa representação. É a questão da democratização do trabalho: pôr o que se passa em debate com os trabalhadores da empresa. Depois, este debate não deve limitar-se aos trabalhadores da empresa. Atores de fora da empresa devem poder intervir. A população afetada por uma atividade – consumidores, residentes... - deve também ter uma palavra a dizer.

Pensa que a saúde dos trabalhadores vem depois da dos consumidores5?

Existe efetivamente uma mudança. É mais fácil mobilizar para a proteção do ambiente do que sobre as desigualdades sociais, que passam muitas vezes para segundo plano. As regras e legislações que dizem respeito à proteção da população, dos residentes, dos consumidores são frequentemente mais eficazes que as que se relacionam com a prevenção e a saúde dos trabalhadores. O caso do Bisfenol A é um episódio revelador. Tanto mais que esta molécula perigosa é proibida nas mamadeiras. O problema é que se esquece de interrogar os trabalhadores que manipulam produtos que contêm bisfenol. É lógico: falar da saúde das crianças provoca uma reação mais rápida que se evocar a situação das trabalhadoras das empresas de limpeza. Isto alimenta o debate sobre o que deve ser uma ecologia política que integre a questão das desigualdades sociais.

Na França, em casos como o das próteses PIP ou em alguns acidentes industriais, quase não se ouve o ponto de vista das pessoas que trabalham nessas empresas. Como explica essa “omertà”?

Quando os trabalhadores fabricam produtos que contêm substâncias perigosas, eles próprios podem não saber disso forçosamente. Na França, o assunto Adisseo, uma empresa que conheceu um grande número de casos de cêncer entre os seus empregados6, é emblemático destas situações. No caso das próteses PIP, parece que é semelhante. É em primeiro lugar, da responsabilidade dos industriais. É preciso impor-lhes uma avaliação prévia dos riscos, antes de um produto ser lançado e que seja obrigado a ser reavaliado dez anos mais tarde por causa da sua perigosidade. Outro elemento: a chantagem do emprego. Não são os trabalhadores que decidem a composição de um produto! Por outro lado, a produção inicial pode não ser o risco mais perigoso, mas sim a sua dispersão. Fabricar um produto de limpeza, por exemplo, pode não ser muito perigoso, mas utilizá-lo poderá desencadear graves prejuízos à saúde. Sem esquecer o que se passa com a sua reciclagem... Isto põe a questão da solidariedade interprofissional.

Foto de Laurent Guizard retirada do site bastamag.net

Entrevista conduzida por Ivan du Roy, publicada em basta!a 7 de fevereiro de 2012

Tradução de Carlos Santos para Esquerda.net

1Diretor do departamento Condições de trabalho, saúde e segurança do Instituto sindical europeu (Etui, European Trade Union Institute), o centro independente de ninvestigação e formação da Confederação Europeia dos Sindicatos (CES).

2 Realizado junto de 44.000 trabalhadores, a consultar aqui (em francês).

3 Segundo as estimativas do projeto Carex, Carcinogen Exposure database, respeitante aos 15 Estados membros em 1995, mais a República Checa e os países bálticos. Este projeto não foi alargado aos outros países membros.

4 Candidato presidencial do PS francês.

5 Ler a este respeito a tribuna de Dominique Huez, médico do trabalho.

6 Em 2007, houve 25 casos de cancros do rim, dos quais 9 morreram, numa análise que viu cerca de 82 pessoas.

Fonte: Esquerda.net

Uma história de luta pelo Brasil - Rui Falcão

Há 32 anos, nascia o PT, com uma estrutura democrática, sem caciques; rompendo com o modelo neoliberal, o partido gerou milhões de empregos

Fruto da "necessidade sentida por milhões de brasileiros de intervir na vida social e política do País para transformá-la", nascia há 32 anos o Partido dos Trabalhadores.

Síntese de múltiplas experiências, ele reuniu na sua origem -tendo Lula à frente- sindicalistas, militantes da esquerda armada, intelectuais, integrantes das comunidades eclesiais de base da Igreja Católica e estudantes, todos motivados inicialmente por uma aspiração comum: o fim da ditadura civil-militar.

Não por outra razão, neste aniversário de 10 de fevereiro, decidimos homenagear o filiado número um do partido, Apolônio de Carvalho, que completaria agora 100 anos.

Herói da luta contra o franquismo nas Brigadas Internacionais, combatente da resistência, na França, contra o nazifascismo e opositor de duas ditaduras no Brasil (a do Estado Novo e a de 1964), o general Apolônio simboliza nosso compromisso com os ideais de democracia, liberdade e igualdade pelos quais viveu.

Ao longo deste curto período histórico, o PT ajudou a fazer democracia e a mudar a face do Brasil.

Lideramos ou participamos de campanhas memoráveis, como a das Diretas Já, a da fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a do impeachment; compusemos nossas primeiras bancadas parlamentares; disputamos as primeiras eleições diretas; e inovamos nas prefeituras e nos governos estaduais com o modo petista de governar, cujos marcos são a inversão de prioridades nos investimentos públicos, a participação popular, a transparência e a gestão democrática do território.

Finalmente, após várias tentativas e muitos percalços, um sonho se materializou: em 2002, elegemos Luiz Inácio Lula da Silva, o primeiro operário a chegar à presidência da República.

Desde então, com a sua recondução ao posto e com a eleição de Dilma Rousseff, a primeira mulher presidenta do Brasil, o PT e um conjunto de partidos políticos e setores organizados da sociedade vêm promovendo uma verdadeira revolução democrática no país. Com o rompimento do modelo neoliberal, cujos efeitos nefastos se propagam hoje por quase todos os países, os governos liderados pelo PT fortaleceram o mercado interno, geraram milhões de empregos, distribuíram renda e protegeram o Brasil da crise.

A valorização do salário mínimo, o reconhecimento das centrais sindicais, a aposta no caminho do emprego, entre outros pontos da nova política, possibilitaram que parcela expressiva da população superasse a linha da pobreza.

Hoje, com significativa aprovação, a presidenta Dilma consolida e inova para atingirmos outro estágio no projeto nacional de desenvolvimento: crescer, preservar e incluir, sempre com democracia politica, econômica e social.

Nesses 32 anos, o PT mudou com o Brasil. Mudou, mas não mudou de lado. Continua fiel a seus compromissos originários, de construir uma sociedade igualitária, sem exploração, sem opressão, sem qualquer tipo de discriminação ou preconceito. Para tanto, constituiu uma estrutura interna democrática, apoiada em decisões coletivas, sem mandonismo nem caciques, pautadas pela vontade majoritária das bases.

No país, há os que querem avançar e não podem e há os que podem mas não querem. Nós, do PT, temos vontade política e força organizada para tanto.

Por isso, queremos a reforma política, a reforma agrária, a democratização da comunicação, o fim do imposto sindical, a reforma do Estado. A vitória eleitoral, na campanha que se inicia, é um passo nessa direção. A mobilização social é indispensável. Afinal, há 32 anos o PT é um partido que luta pelo Brasil.

RUI FALCÃO, 68, é deputado estadual (SP) e presidente nacional do Partido dos Trabalhadores

Fonte: PT Senado

Para PT, sucesso eleitoral depende da construção de alianças

Reunido nesta quinta-feira (9), em Brasília, o diretório nacional do PT aprovou uma proposta de resolução que trata, entre outros temas nacionais, das eleições municipais deste ano — em especial do pleito na capital paulista.

O texto — que passa por emendas, antes de sua divulgação oficial — afirma que o sucesso nas eleições “depende, mais do que da conjuntura nacional favorável”, da “capacidade de construir alianças”.

A orientação nacional mantém o clima de união do partido, principalmente em relação à disputa pela Prefeitura de São Paulo. Depois da escolha do ex-ministro da Educação Fernando Haddad para representar o partido na disputa, o PIG paulistano tem insistido em alimentar o noticiário com informações sobre a insatisfação da ex-prefeita, a senadora Marta Suplicy, diante da possibilidade de uma aliança entre o PT e o PSD de Kassab na capital.

Marta disse, em Brasília, que precisa ser "muito cuidadosa" sobre seu engajamento na campanha antes que o PT decida se fará aliança com o PSD. "Se não, corro o risco de acordar de mãos dadas com Kassab no palanque", afirmou a senadora.

Nesta quinta, integrantes da direção do partido atenuaram as afirmações da senadora. "No PT, todo mundo que tem opinião pode falar. Marta vai participar da campanha", disse o presidente estadual da sigla, Edinho Silva.

"Estamos no meio do debate sobre a política de alianças, e a contribuição da senadora vai ser importante. Temos certeza de que ela vai contribuir com a campanha", afirmou o presidente municipal, Antonio Donato. Ex-secretário de Marta, o novo líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), também contemporizou, mas disse preferir o PMDB na vice.

O PT e o governo federal consideram que uma possível vitória na capital é estratégica para derrubar a hegemonia tucana no governo do estado — que já dura mais de 17 anos e se mostra incapaz de produzir uma política de desenvolvimento que acompanha o ritmo nacional.

Outros partidos de esquerda e da base do governo, porém, não entendem assim. O PCdoB, por exemplo, mantém a pré-candidatura de Netinho de Paula. Já o PMDB confirma o nome do deputado Gabriel Chalita. PSB e PDT ainda não se posicionaram oficialmente.

Fonte: Vermelho

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Os tucanos se bicam

Como se dizia antigamente, com os amigos que têm os tucanos não precisam de inimigos. Dia sim, outro também, seus líderes se atacam e se acusam, expondo, sem qualquer comedimento, as desavenças em público.

O protagonista do capítulo mais recente foi ninguém menos que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Justo o presidente de honra da legenda, a quem, imagina-se, estaria confiado o papel de “sábio estadista”, de eixo de equilíbrio entre seus grupos e facções. Se, aos 80 anos, FHC continua a atiçar as fogueiras, imagine do que são capazes seus correligionários (e o que ele próprio fazia quando era mais jovem).

Semana passada, ele aproveitou a oportunidade de uma entrevista à edição eletrônica da revista inglesa The Economist para falar coisas extraordinárias. Os velhos bordões a respeito de seus governos – na linha do “fui eu que fiz tudo de bom que hoje existe” – estavam lá, mas em meio a algumas novidades.

Foi, provavelmente, a mais explícita manifestação sobre José Serra e suas tentativas de chegar à Presidência. Em uma avaliação cruel e sem meias-palavras, colocou no colo do ex-candidato a responsabilidade pelas derrotas. E deixou claro seu temor de que Serra volte a representar o PSDB em futuras eleições presidenciais.

(É possível que a franqueza do ex-presidente tenha uma explicação prosaica: ao que parece, preferiu dar a entrevista em inglês. Embora FHC se orgulhe de conseguir se expressar muito bem nesse idioma, nunca é a mesma coisa que falar em português. Fogem as palavras para os eufemismos e os circunlóquios. As coisas ficam mais duras: pão é pão, queijo é queijo.)

Não que fizesse revelações. A história de como Serra tornou-se candidato em 2002, por exemplo, era conhecida. Mas não havia sido contada por FHC ou outra autoridade peessedebista: a “tensão” entre os pré-candidatos do governismo de então, o modo como Serra se impôs sobre eles, sua vitória “inconvincente”. Diz FHC que seu “candidato natural” seria Mário Covas, se a fatalidade não o tivesse levado um ano antes. Serra foi apenas quem sobrou (depois de eliminar seus concorrentes), mas não conseguiu “convencer” o eleitorado. Ou seja, a vitória de Lula – e o início do ciclo petista no Planalto, que não dá sinais de que terminará em 2014 – nada tem a ver com o julgamento desfavorável de seu governo. A culpa é de Serra.

Como é ele, também, a explicação da derrota em 2010. Sua “arrogância” o impediu de formar alianças, seu “isolamento” o levou a conduzir uma campanha onde “erros enormes” foram cometidos. Perguntado se teria sido possível ao PSDB vencer Dilma, apesar do endosso de Lula, disse que sim. Desde que o candidato não fosse Serra.

O fascinante na formulação é que ele nunca se considera responsável pelo que faz o partido que preside. O presidente da República era ele em 2002, mas, como estava “cansado de exercer a liderança política” – e “não apenas por generosidade” –, resolveu lavar as mãos. Em 2010, achava que Serra não era a melhor opção, mas ficou quieto (ou não conseguiu fazer nada para impedi-lo de, outra vez, se arrogar o direito de ser candidato).

Essa liderança que não lidera conflita com a autoimagem que tem. Sem qualquer modéstia – e pouca visão da realidade –, FHC acha que ele e Lula são “os dois únicos líderes” brasileiros dos “últimos 20 anos” (o que entende ser pouco para “um país tão grande”).

Como se houvesse qualquer semelhança entre as trajetórias de ambos: sem três ou quatro acidentes (a morte de Tancredo, o fracasso de Sarney, o impeachment de Collor, o desaparecimento de Covas), FHC não existiria (ou seria muito menor do que é), enquanto Lula continuaria a ser Lula, pois não precisou do acaso – e nem de um Plano Real – para chegar aonde chegou. Fernando Henrique diz que o PSDB tem de “reorganizar a hierarquia da liderança” (o que, em tucanês, quer dizer definir quem manda no partido), pois ninguém surgiu para ocupar o lugar que tinha. Quanto a si mesmo, explica que “tomou a decisão (…) de abrir espaço”, pois, na altura da vida em que está, “perdeu a vontade” de liderar.

A entrevista reflete o clima em que vive o PSDB. Seu presidente de honra divide, em vez de somar. É magnânimo na repartição das responsabilidades pelas derrotas, mas avaro na reivindicação dos sucessos. Acredita que cabem (somente) a Serra as culpas pelas decepções recentes. Parece ter de Geraldo Alckmin uma opinião nada elevada, nem ao menos o considerando um ator na próxima sucessão presidencial.

Quanto a Aécio, foi enfático ao dizer que é o “candidato óbvio” do PSDB em 2014, mas, perguntado se teria condições de ganhar, tergiversou. Repetiu a trivialidade de que ele tem “algum apoio” em Minas, mas que será obrigado a brigar com Serra para se tornar candidato. Não disse sim, nem sequer que poderia vencer.

Com lideranças desse tipo, é impossível que um partido esteja bem.

Fonte: Carta Capital

PSDB: secretarias são usadas em prévias

Os pré-candidatos à Prefeitura pelo PSDB usaram estruturas de comunicação das secretarias de Estado para tratar de assuntos relativos às prévias do partido, marcadas para março. Nos últimos quatro meses, assessores usaram espaços físicos e telefones vinculados às pastas para abordar temas específicos da disputa. A Secretaria de Comunicação do governo informou que nenhum funcionário está autorizado a fazer atividades para as quais não foi contratado.

A questão sobre o uso das estruturas do Estado na pré-campanha veio à tona semana passada, quando o Twitter da Secretaria de Cultura, administrada pelo pré-candidato Andrea Matarazzo, repassou mensagem com elogio a ele. A pasta disse que a conta fora violada e pediu investigação.

Por orientação dos pré-candidatos, questões político-partidárias foram encaminhadas a assessores das pastas, pagos com recursos do Tesouro. A comunicação do Planejamento, tocada pelo presidente municipal da sigla, Julio Semeghini, também foi acionada para demandas sobre o PSDB.

Os telefones dos assessores, por meio dos quais são respondidas informações das pastas, foram usados no horário comercial para repassar agendas de Matarazzo, Bruno Covas (Meio Ambiente) e José Aníbal (Energia). No caso de Meio Ambiente, o telefone é pessoal da assessora. O governo não disse de quem eram os demais celulares. E-mails sobre prévias também foram respondidos por assessores de dentro das secretarias.

No dia 27 de janeiro, o JT ligou para o diretório municipal do partido e pediu pela assessoria de imprensa. Recebeu, então, a informação de que questões sobre a legenda eram tratadas pela comunicação do Planejamento. O celular da assessora foi informado.

Na ocasião, o JT questionou Semeghini sobre o fato de a assessora da secretaria ser a mesma do partido. Ele disse que era situação momentânea e que havia estrutura no PSDB para atender à imprensa. Em 25 de novembro, a assessoria de imprensa do Planejamento enviara ao JT às 15h39, de conta de e-mail pessoal, dados sobre os filiados do PSDB na capital.

No dia 17 de janeiro, as assessorias de imprensa dos secretários de Meio Ambiente e de Energia foram procuradas, no horário comercial, para que pré-candidatos respondessem a perguntas sobre prévias. Assessores pediram que as solicitações fossem enviadas a seus e-mails, nenhum das secretarias, embora o da Energia trouxesse no corpo o telefone da pasta. O JT deixou claro no pedido que o assunto eram prévias: “Conforme conversamos por telefone, seguem perguntas a serem respondidas por todos os pré-candidatos. As informações constarão de matéria sobre as prévias do PSDB”.

O pré-candidato e deputado Ricardo Tripoli disse pagar do bolso a sua assessoria de imprensa. Em 2011, não pediu à Câmara reembolso de atividades ligadas às prévias.

Outro lado

A Secretaria de Planejamento negou que usa a assessoria para questões partidárias. “O (sic) funcionários das assessorias de comunicação das secretarias, por questão de lógica, só podem saber a motivação dos telefonemas dos jornalistas após atendê-los e, diante da solicitação, dar a ela o encaminhamento devido”, afirmou. “O Estadão se valeu dessa constatação da realidade para promover telefonemas que comprovassem sua teoria.”

A Secretaria de Comunicação do governo disse que “nenhum funcionário do governo do Estado está autorizado a trabalhar para outra função que não aquela para a qual foi contratado”. As assessorias dos pré-candidatos disseram não atender a demandas partidárias fora do horário comercial.

“Existe uma certa dificuldade de distinguir, de maneira radical e absoluta, atividade pública da estritamente partidária ou de pré-candidatura”, disse Carlos Ari Sundfeld, professor da FGV-SP. “Mas existe um limite para isso, que não é exatamente fácil de distinguir em todos os casos”, disse.

Fonte: Jornal da Tarde

Vladimir Safatle: Chamar de "muro" um muro

Recebi a informação de que um jornalista, o senhor João Pereira Coutinho, acusou-me de falar do conflito palestino como um turista que vai a campo e deslumbra-se com o que vê rapidamente. Um "turista ocidental", como diz o referido jornalista com sua impressionante ironia.

No entanto, se este senhor conhecesse ao menos um pouco da imprensa brasileira saberia que escrevo sobre este assunto e sobre questões ligadas à política no mundo árabe há mais de dez anos nos principais jornais do Brasil (Folha, "Valor Econômico", "Correio Braziliense").

Podem-se criticar frontalmente minhas interpretações, mas desqualificá-las como exercício de diletantismo é um expediente fácil de quem sabe apenas se isolar em uma visão de mundo preconcebida e imune a qualquer confrontação com os fatos.

Não por outra razão, suas colocações beiram a comédia involuntária. Primeiro, tenta apagar o muro que Israel levantou na Cisjordânia dizendo que não se trata exatamente de um muro mas de uma: "barreira de segurança".

Ok, talvez em Portugal "muro" deva significar outra coisa. Por isso, gostaria de lembrá-lo que, no Brasil, chamamos de "muro" um muro, o que talvez este senhor não saiba. Este é um exercício saudável que alguns deveriam fazer: chamar as coisas pelos seus nomes.

Por exemplo, ninguém que eu saiba procurou apagar o Muro de Berlim chamando-o de "barreira de segurança de Berlim". Talvez o senhor Coutinho gostasse de iniciar esta modalidade de novilíngua. Bem, a princípio, posso garantir que vi um muro, por sinal muito parecido com o que vi em Berlin quando este ainda existia.

Mas sei que há pessoas que, mesmo diante de um muro, continuarão a dizer que ele não existe. Os psiquiatras costumam chamar isto de "alucinação negativa".

Como se não bastasse, ao falar de sua "barreira de segurança", o senhor Coutinho afirma que ela foi erguida para proteger Israel de ataques terrorista, o que justificaria tudo. De maneira desonesta, ele "esquece" que Israel foi condenado por tribunais internacionais por levantar um Muro que anexava de facto áreas internacionalmente reconhecidas como pertencentes ao futuro Estado da Palestina.

Ou seja, o governo de Israel poderia construir quantas "barreiras de segurança" quisesse, desde que em seu território. O problema não diz respeito apenas a sua segurança, mas também a sua inaceitável conquista territorial.

Depois, este senhor afirma (isto eu tenho que citar na íntegra senão alguns acharão que inventei): "a existência de um estado autônomo e respeitoso das fronteiras de 1967 tem sido sucessivamente proposto pelas lideranças israelenses desde 1967".

Mas, se este é o caso, alguém poderia me explicar por que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse claramente, no próprio Congresso norte-americano sob aplausos dos republicanos, que nunca aceitaria a proposta enunciada por Obama de criar um Estado palestino nas fronteiras de 67?

Por sinal, em minha tosca ingenuidade, quem propõe respeitar as fronteiras de 67, não coloca, como fez o governo de Israel nos últimos vinte anos, centenas de milhares de colonos na área que procura "respeitar".

Se este senhor realmente se interessa pelo conflito palestino sugiro, inclusive, que leia a carta programa do Likud, partido do atual primeiro-ministro.

Lá ele descobrirá que sua carta de 1999 diz com todas as letras : "O governo de Israel rejeita o estabelecimento de um estado árabe palestino a oeste do Rio Jordão". Mas talvez, assim como o Muro que não existe, o senhor Coutinho baterá o pé e dirá que tais palavras nunca foram escritas, que o que vemos diante de nossos olhos é uma ilusão resultante de algum complô maquiavélico de esquerdistas amigos de terroristas e defensores da destruição dos valores ocidentais de liberdade e democracia.

Sobre a questão dos refugiados, creio ter deixado claro que a posição de Arafat na negociação com o antigo primeiro-ministro de Israel Ehud Barak foi, a meu ver, um equívoco. Apenas lembrei que não há nada "perverso" em exigir o reconhecimento de um direito internacionalmente aceito e aplicado em vários outros casos.

Ninguém imagina que 4 milhões de refugiados voltariam, mas nada impedia que uma solução de compromisso fosse encontrada, como absorção de uma parte e compensação financeira para os demais. Se os israelenses tem dúvida a respeito palestino do desejo de negociação, sugiro que recoloquem a mesma proposta na mesa. Vejamos o que acontecerá.

Por fim, da mesma forma como o senhor Coutinho faz questão de não ver certas coisas, ele consegue ver o que não existe. Em momento algum afirmei que "existe um apartheid de facto no interior de Israel entre israelenses e árabes-israelenses". Mas ler atentamente o que se critica talvez seja pedir demais.

Toda esta discussão lamentável apenas demonstra o nível raso do debate que temos sobre um assunto tão importante.

Em momento algum, o jornalista em questão reconheceu minimamente o sofrimento do povo palestino. Para ele, isto não conta, disto nem vale a pena falar. Melhor tratá-los como uma horda de terroristas potenciais que merecem o tratamento que tem. Mostrar indignação com o sofrimento palestino é capitular, deve pensar o referido jornalista.

Como se fosse impossível afirmar, ao mesmo tempo: "não aceitamos ataques terroristas contra o povo israelense" e "não aceitamos a humilhação cotidiana, a destruição moral do povo palestino, assim como a anexação de seu território". Pois se Israel quer se livrar do fantasma do Hamas, nada melhor do que mostrar aos palestinos que a via da diplomacia traz frutos concretos. Que tal começar parando de bloquear o reconhecimento do Estado da Palestina no Conselho de Segurança do ONU?

A criação do Estado de Israel foi uma necessidade histórica inquestionável. Tratava-se de procurar terminar com um dos processos mais vergonhosos de perseguição e destruição ao qual um povo foi submetido (diga-se de passagem, principalmente na Europa esclarecida, com seus pogroms, campos, numerus clausus para a admissão de judeus no sistema escolar).

Hoje, a criação do Estado da Palestina (e não um conjunto medonho de bantustãs) é uma necessidade histórica da mesma ordem. Quem não tem coragem de afirmar isto com todas as letras, mente quando diz preocupar-se com direitos humanos.

Melhor seria se estes aprendessem algo a respeito de juízos universais e incondicionais. Pois há situações inaceitáveis sob quaisquer circunstâncias. Ataques terroristas a população civil é um dos casos. Destruição moral de populações inteiras é outro.

Fonte: Folha.com

Emir Sader: A França, da esquerda à direita

Engels chamou a França de “laboratório de experiências politicas”. A França era o reino da política, assim como a Alemanha da filosofia e a Inglaterra da economia.

A Alemanha, segundo Marx, não conseguia livrar-se do velho regime, como a França havia feito. Canalizava, de forma compensatória, todas suas energias para a cultura e a filosofia, produzindo gênios como Goethe, Beethoven, Bach, Kant, Hegel, entre outros. Marx desenhava a Alemanha como uma pessoa com um corpo esquálido e uma cabeça enorme.

A Inglaterra era o reino da economia, porque a burguesia tinha conseguido abrir espaço para a acumulação de capital antes que nos outros países, transformando em mercadorias a terra e a força de trabalho – elementos fundamentais para a reprodução do capitalismo emergente. Marx foi à Inglaterra para compreender “as leis gerais da acumulação capitalista”, que lá haviam adquirido sua forma mais avançada no seu tempo.

Na França tudo se dava politicamente da forma mais exacerbada, a começar pela revolução de 1789, seguida pelos movimentos de 1830, de 1848, pela Comuna de Paris de 1871, pelo governo de Frente Popular de 1936, pelas barricadas de 1968. Ao mesmo tempo a França se constituía no bastião mais progressista e criativo do ponto de vista teórico.

Poucas décadas depois a França se tornou o bastião do pensamento conservador em toda a Europa. Houve uma grande virada à direita, atrás dessa passagem da hegemonia de esquerda à hegemonia da direita. Um momento fundamental foi a eleição de François Mitterrand, em 1971, o velho sonho da esquerda francesa do segundo pós-guerra finalmente realizado, com um governo socialista-comunista.

Depois de ter avançado em pontos essenciais do programa histórico da esquerda – incluindo o fortalecimento do Estado, nacionalização de empresas estratégicas -, já no seu segundo ano Mitterrand promoveu uma virada, que implicava que a França deixava de representar politicamente uma referencia de esquerda, para somar-se, de forma subordinada ao eixo EUA-Inglaterra. A França – e os outros países do continente em seguida – preferiram ser aliados subordinados do eixo anglo-norteamericano a ser polo alternativo e manter sua relação de solidariedade com os países da periferia.

Essa virada se fez notar imediatamente na intelectualidade, na mídia, nas editoras, nas livrarias – no pensamento predominante, em geral. Saiu de cena o intelectual comprometido e solidário como Sartre, para ser substituído por personagens midiáticos como Bernard Henri-Levy. O Le Monde, que havia sido o melhor jornal do mundo, piorou consideravelmente, na orientação e na qualidade das matérias, tornando-se um jornal entre vários outros. As livrarias sofreram um processo de vulgarização, são hoje as menos interessantes na Europa, quando antes haviam sido as mais interessantes.

Com a morte de Pierre Bourdieu, a França perdeu seu ultimo grande intelectual com grande capacidade de elaboração teórica, de intervenção nos maiores debates políticos e de mobilização concreta de jovens pesquisadores e de estudantes. Continuam a haver bons intelectuais na França, a maior parte de economistas marxistas, ou filósofos, alguns dentre eles sobreviventes do grupo de Althusser – como Badiou, Ranciere, Balibar. A esquerda radical perdeu muito com a morte de Daniel Bensaid, sua melhor cabeça.

No essencial, a direita impôs sua hegemonia também no campo intelectual, refletida na tv, nos jornais, nos centros de estudo, nas livrarias, no cinema, no movimento cultural em geral. Terminaram varias revistas progressistas, o estilo de intelectual midiático se impõe na formação da opinião publica. O longo governo Mitterrand representou essa transição e os governos Chirac e Sarkozy sua consolidação à direita.

Fonte: Carta Maior

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A história das lutas de Apolônio agora é do Arquivo Nacional


É de extrema importância para a história nacional e para a vida política do país a iniciativa colocada em prática hoje pela família do líder de esquerda Apolônio de Carvalho - em especial de sua viúva Renée - de doar todo o acervo do mestre, o que sobrou dos anos de perseguição e repressão, para o Arquivo Nacional.

Hoje , às 16h, tem início a cerimônia desta doação, no auditório do Arquivo, no Rio (Praça da República, 173). Cumpre-se assim mais uma homenagem ao centenário de nascimento de Apolônio, exemplo de coragem e luta, um herói para todos nós de três guerras - a Civil Espanhola, a Resistência francesa e o combate à ditadura no Brasil - em dois continentes.

Nascido em Corumbá, em 9 de fevereiro de 1912, Apolônio passou a maior parte de seus 93 anos em combate pela justiça social e pela liberdade dos povos. Jovem ainda apoiou a Aliança Nacional Libertadora (ANL) e após ser preso pelo governo Vargas, foi expulso do Exército. Aos 25 anos, se filiaria ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) .

Combateu fascistas e nazistas

"Herói de três pátrias", como bem definiu o escritor Jorge Amado, a luta de Apolônio atravessou fronteiras. Combateu os fascistas na Guerra Civil Espanhola e os nazistas na França, tornando-se um dos combatentes na Resistência à ocupação alemã. Nesta época conheceu a jovem comunista, Renée, com quem compartilharia lutas e a vida até o último dos seus dias. No Brasil, Apolônio resistiu e enfrentou duas ditaduras - a de Vargas (1937-45) e a dos militares (1964-1985).

Por aqui, viveu boa parte do tempo na clandestinidade. Deixou o PCB e em 1968, junto com Mário Alves, Jacob Gorender e outros e fundou o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Preso e barbaramente torturado pela repressão, Apolônio partiu para Argel, no exílio, em 1970, quando da troca de presos políticos pelo embaixador alemão sequestrado Ehrenfried von Holleben

Só voltaria à sua pátria nove anos mais tarde, com a Anistia. Um ano depois, com muito idealismo, otimismo e força nos ajudou a fundar o PT, em fevereiro de 1980. Esteve na direção do PT até 1987, quando se afastou por orientação médica. Um grande abraço aos familiares de Apolônio, um agradecimento pelo gesto que tiveram e pela grandeza de cederem seu acervo agora ao Arquivo Histórico Nacional.

Fonte: Blog do Zé Dirceu

Sou do mundo, sou Minas Gerais - Entrevista com Milton Nascimento

"Cada história minha tem 200 histórias", avisa Milton Nascimento. É verdade. Ele pensou em ser economista, virou cantor, mas poderia ser contista. Descreve episódios em detalhes, como se escrevesse um roteiro mentalmente. Conta que tem três paixões: música, cinema e astronomia. É possível ver um telescópio na entrada de sua casa, no Rio de Janeiro, de onde se pode avistar parte da floresta da Tijuca. Não pode faltar montanha na vida desse carioca de nascimento que aos 2 anos foi para Três Pontas, em Minas Gerais. O menino descobriu a música ainda pequeno, tocando na noite de Belo Horizonte.

Queria ser só cantor, mas foi convencido a compor depois de sair com o amigo Márcio Borges para assistir a Jules and Jim (1962), de François Truffaut. “Entramos às 2 e saímos às 10 da noite”, lembra Milton. “Nessa noite, fizemos três músicas (Novena, Gira Girou e Crença). A partir desse dia comecei a fazer música. Eu não queria que fosse parecido com nada que já existia.” Assim, ele ganhou o mundo, após a explosão do Clube da Esquina, no início dos anos 1970. Quase largou a música, mas foi salvo por um menino que conheceu naquele que poderia ter sido o último show de sua vida. Os “baixinhos”, como ele diz, são parte permanente de sua história. Como o pequeno Benke, que Milton conheceu nas andanças pela Amazônia.

Em outro ambiente da casa, tambores, gramofone, um quadro de Portinari mostrando o corpo de Tiradentes, um poema sobre a Praça da Liberdade, em Belo Horizonte. Na mesa, uma agenda Beatles 2010. Um piano, com várias fotos em cima: pai, mãe, irmãos. Dois bonecos em miniatura: Milton e uma outra pessoa, que em vez de dizer o nome é melhor ouvir, ou ler, a passagem a seguir, ocorrida no início dos anos 1960 na casa de uma cantora da época, chamada Luiza:

“Cheguei lá e fiquei maluco no meio daquele pessoal todo da Bossa Nova. Deu um lance de felicidade assim... Aí eu tô olhando assim as pessoas, tinha uma figurinha sentada num canto da sala, eu pensei: ‘Conheço essa mulher’. Pelo fato de ter sido DJ da rádio de Três Pontas, eu conhecia um disco que essa figura tinha gravado. Na rua, fui atrás dessa figura, que tinha cantado um disco de rock. Comecei a cantar, ela disse: ‘Cala a boca, esquece isso!’ Não precisa dizer quem é, né?”, diz Milton. “Eu peguei, calei minha boca e tal.”

Para quem ainda não adivinhou, a segunda parte da história, passada anos depois, durante o segundo festival de música da TV Excelsior, que ela já havia vencido em 1965. “No dia do encerramento do festival, eu estava saindo, ouvi um barulho de uma pessoa vindo, passei com minhas vergonhas, abaixei a cabeça, passei por ela e de repente ouvi um barulho de tamanco. Ela disse: ‘Mineiro não tem educação, não?’”

Na sequência da bronca, um convite: “‘Eu quero que você vá na minha casa para mostrar umas músicas suas. Principalmente aquela que você cantou lá no Rio, na casa da Luiza’. E começou a cantar. Ela só tinha ouvido uma vez, e foram vários anos. Olhei pra ela assim, ela disse: ‘Memória, meu caro’. Aquele barulho do tamanco nunca vou esquecer na minha vida”.

É dessa maneira afetuosa que Milton lembra de sua amiga Elis Regina. E vai lembrando de outras pessoas que passaram e ficaram em sua vida, entre trens e estações.

Você teve algumas descobertas, América Latina, África, Amazônia... De que forma foi conhecendo esses outros mundos?

Vamos começar pela América Latina. Fiz a música San Vicente para a peça de um escritor chamado José Vicente, para mim um dos melhores, mas que de repente desapareceu. Foi muito perseguido também. Ele fez uma peça, tinha ali a Norma Bengell, e me chamaram para fazer a música. A peça se passava numa cidade latino-americana chamada San Vicente, mas na verdade era passada aqui no Brasil. Não tinha o nome do país. Foi uma peça muito bonita, muito forte, e aí gravamos no Clube da Esquina (1972) e aconteceu que essa música se espalhou por vários países latinos numa época em que o Brasil não tinha nenhuma...

Parecia que nem era da América Latina...

É, justamente. Eu comecei a receber várias cartas, de vários países, de músicos, poetas. Foi despertando uma vontade de saber quem eu era... Aí aconteceu o seguinte: fui à PUC, tinha um show do (Jards) Macalé. Antes do Macalé cantar, tinha um grupo do Chile – o pessoal tinha 16, 17 anos – que fez a abertura, e eu fiquei maluco. Eu disse: não posso ficar longe desse pessoal. Logo depois do show, eles estavam na minha casa.

Era o Água?

Grupo Água. Era uma época muito forte assim de eu conhecer o que acontecia no restante da América Latina e eles também conhecerem o que se passava no Brasil. Por causa deles, eu conheci muita coisa da Violeta Parra, Atahualpa Yupanqui... Aí veio Chile, Uruguai, todos os outros países.

É verdade que você ficou com medo da Mercedes Sosa, que o Vinicius de Moraes teve de levar você lá?

Fiquei vendo o show dela, ela parecia uma mulher da altura do Corcovado, grande, alta, forte. Quando acabou, o Vinicius disse: “Vamos lá conversar com ela”. Eu disse: “Não vou, não. Estou com medo dela. Estou com medo mesmo. Ela é muito forte, não sei se eu aguento encarar essa mulher”. Ele disse para eu deixar de ser bobo. Pegou minha mão, atravessamos o teatro. Ele segurando minha mão como se eu fosse um bebê, e eu morrendo de medo. Quando chegamos no camarim, ela estava de costas, virou e disse: “Milton!” Aí entramos, conversamos... Eu estava louco pra fazer, apesar do medo, uma participação dela no disco Geraes. Depois que fiquei mais calmo, eu disse: “Mercedes, eu queria que você cantasse comigo no meu disco”. Ela respondeu: “Olha, eu não vou poder cantar, porque eu só canto em espanhol”. E eu: “Mas é em espanhol” Ela: “Pois é, mas acontece que a minha gravadora não vai deixar”. E eu: “Mas, Mercedes, a sua gravadora é a mesma que a minha”. Ela foi tentando escapar. Tudo que ela falava, eu tinha uma resposta na boca.

O repórter fotográfico Rodrigo Queiroz não resiste e comenta: “Ela estava com medo”. (Gargalhadas)

Aí gravou, né?

A última coisa que ela disse foi que ela só poderia cantar com o guitarrista dela. Eu falei: “Tá, você leva o seu guitarrista e eu levo o meu, um chileno do grupo Água”. E ela: “Ai, meu Deus, e a música?” Volver a los 17. “Então, tá” (risos). Mas acho que tinha medo dos dois lados, sabe? Foi um negócio muito bonito, porque a gente foi pro estúdio e deu uma passada. Na outra, a gente já estava gravando. Foi a primeira vez que eu cantei com uma pessoa da América Latina, e logo Mercedes Sosa.

Em 2010, no show de 1º de Maio da CUT, em São Paulo, você fez uma homenagem a ela no Memorial da América Latina (Mercedes morreu em outubro de 2009).

A gente gravou muita coisa, né? Fizemos muitos shows juntos... Tem um caso que é até muito engraçado. Tinha um índio que era fã da Mercedes. Onde ela ia, ele ia. Aí combinamos de fazer um show na Espanha. O índio foi. Quando vi o índio, perguntei como ele estava. “Tô mal, não sei como estou me aguentando em pé. A Mercedes veio a 200 por hora, nunca mais ando com ela de carro.” Aí, lembrei que me falaram que ela saía de Buenos Aires e ia pra terra dela, Tucumán, e todo mundo dizia na estrada: “La Negra...” (como Mercedes era conhecida), morrendo de medo. Se você visse a cara do índio, ele estava verde... Teve um lance que ela ligou pra mim e disse que queria gravar comigo Nos Bailes da Vida, mas tinha de ser naquele dia, porque ela ia viajar. No estúdio, tinha um cara tocando piano... Era uma música que eu nunca tinha ouvido na vida (Inconsciente Coletivo). Eu falei que ela tinha dito que era Nos Bailes da Vida, ela disse que não... Anotei a letra, a gente fez um arranjo na hora, e foi de primeira também. Aí eu falei que tinha ficado bonito. E ela: “Eu não te disse?” Eu tinha que ter medo dela, né?

Tudo de primeira.

Teve uma época em que o Fito Paez me chamou para fazer um programa dele na televisão, lá na Argentina. Ele iria cantar umas músicas minhas e me dar umas dele para eu cantar. Fui pro hotel, e nunca chegavam as músicas do Fito. Fui ficando meio nervoso. No dia que a gente ia ensaiar, ele apareceu no hotel e trouxe umas músicas: “Nós vamos cantar estas aqui”. Sempre acontece comigo. Eu disse: “Como é que você faz uma coisa dessas? Você tem as minhas músicas com um mês de antecedência, e traz as suas agora. Como é que eu vou decorar isso?” Ele disse assim: “Tem uma história aqui na Argentina...” A Mercedes chegou lá e contou pra Deus e o mundo que a gente fez a gravação de uma música que eu nunca tinha ouvido falar (risos).

Isso não aconteceu também no começo da carreira, quando te chamaram pra tocar com o Vinicius?

Eu estava tocando numa boate lá em Belo Horizonte. Era um trio – eu, Wagner Tiso no piano e Paulinho Batera, como a gente chamava (Paulo Braga). E tinha um outro trio que ia tocar com o Vinicius. Foram me chamar na pensão porque não ia dar tempo para eles tocarem. Aí tudo bem, Vinicius de Moraes eu sabia até as músicas que ele ainda não tinha feito. Ele e Tom Jobim, eu era absurdamente fanático.

Você não ficou com medo dele?

Nem um pouco! Uma hora, ele falou que haviam dito a ele que Minas Gerais tem muitos músicos, compositores... “Tem alguém aí que compõe, que tem uma música pra cantar pra gente”? Os estudantes, que me conheciam, responderam: “Ele!” Parecia um filme do Spielberg, com as mãos assim, né? Foi a única vez que eu cantei, antes desse último disco nosso agora, E a Gente Sonhando. Fiz música e letra. Eu trabalhava num escritório, e tinha hora que me dava um negócio e eu pegava a máquina e escrevia...

Você era bom datilógrafo...

(risos) Você leu o livro do Marcinho (Márcio Borges, autor de Os Sonhos não Envelhecem), né? Eu escrevia a letra e botava uma música assim, por causa do balanço da letra, né? E a Gente Sonhando foi em 1963, uma coisa assim. Eu era muito amigo do Márcio Borges e a gente saía, todo dia, andando pelas ruas de Belo Horizonte, principalmente a Rua Rio de Janeiro, que dava um negócio na gente, aquelas árvores, as pessoas, as casas, que a gente não conseguia parar de pensar. Um dia cheguei no escritório e comecei a escrever um conto baseado na Rua Rio de Janeiro. Fiz a música também. Só que o conto desapareceu e ficou essa música que eu não gravei até o ano passado, com os meninos da minha terra, Três Pontas. Então, acho que a minha vida tem umas magias que me pegam de surpresa. Sou muito feliz com a música e com o que a música me traz.

Tem uma música que você fez imaginando outra que gostaria de ter feito e não fez.

Eu morava em Belo Horizonte. Liguei o rádio e de repente eu reconheci as vozes, que eram o Paul McCartney e o Stevie Wonder (a música era Ebony and Ivory). Fui ouvindo, chegando pra perto do piano... Foi uma coisa que o Paul McCartney escreveu, ligando as cores do teclado com as cores da vida. Então, como é que podia ser ébano e marfim numa música e na vida real ter o preconceito? Eu fiquei assim no piano, me deu uma vontade de dar um pontapé no piano, botar fogo no piano, botar fogo em mim... Fiquei danado. Tinha uma coisa que o Tunai mandou para mim, eu fiz a letra, mostrei pra ele, que é louco pelos Beatles, ficou maluco e eu também (a música é Certas Canções, gravado no disco Anima, de 1982).

Por falar em preconceito, você compôs a Missa dos Quilombos. O Brasil ainda tem trabalho escravo. Apesar de algum avanço que a gente teve, ainda tem essa face atrasada do país.

Tem muita coisa que precisa ainda consertar no Brasil. Que é esse negócio, né? Não é preconceito de branco com negro, tem índio... Tem sempre um negócio que não deixa o país ser aquilo que ele realmente é, que é um país aberto pras raças. Eu não conhecia o dom Pedro Casaldáliga, uma pessoa me deu um livro de presente, e nesse livro ele fala que sofreu muito (na ditadura) e uma coisa que segurou muito a vida dele foram as minhas músicas. Fiquei sabendo que ia ter uma missa em Goiânia e fui. Era a Missa da Terra sem Males, dos índios. Era uma coisa maravilhosa, uma loucura, parecia que estava saindo de dentro tudo o que eu ouvia. Fui lá cumprimentar, passou dom Hélder Câmara, que disse: “Por que vocês não fazem uma missa baseada nas coisas dos negros?” Que baixinho, hein? Eu tenho um problema com os baixinhos, que sempre me dão ideias fantásticas (risos). Aí a gente começou a escrever, eu, dom Pedro e o Pedro Tierra. Tivemos uma dificuldade, porque o Rui Barbosa mandou queimar todos os papéis que falavam da época dos negros no Brasil, então tivemos que botar gente pelo país inteiro (para pesquisar). Aí fizemos a missa, que foi uma loucura.

Nesse disco novo (E a Gente Sonhando), você juntou uma turma de Três Pontas. No disco Minas (1972), também juntou músicos que já conhecia. Você gosta desse processo coletivo?

É impressionante. Eu adoro trabalhar com mais pessoas. Não gosto de trabalhar sozinho. Tenho uma sorte, vou conhecendo as pessoas, e elas têm a ver com a gente. O Minas, por exemplo, foi uma ideia de um garoto de 12 anos que conhecia minhas músicas e perguntou por que eu não botava o nome do disco de Minas, o Mi do Milton e o Nas do Nascimento. É sempre assim, os baixinhos...

No seu site, tem uma frase intrigante do Chico Buarque: “O Bituca manda em mim”. Por quê?

Uai... A gente ficou amigo, começou a compor e não sei que mais e tal. Ele fica nervoso pra cantar num palco, e eu fazia os shows e dizia: “Chico, você vai, e tal”. Aí ele pegou uma hora e falou que eu mandava nele, que tudo que eu queria ele fazia. Achei bom, né?

Apesar de todo esse universo, dessa alegria que você falou, teve uma hora que você chegou a pensar em não cantar mais. Isso para você deve ser algo quase como não viver, não é?

Era não viver. Teve uma época que eu falei pra mim que eu só ia compor as coisas que eu estivesse vivendo e que eu acreditasse. Teve uma época que não estava legal. Então, se não tá legal, vou parar. Mas não falei para ninguém, porque tinha muita gente que falava que ia parar, fazia o show de despedida e não parava. Marquei o dia em que eu ia parar. Ia ter um show que eu fiz com dois corais de Minas (Rouxinóis e Curumins), a Jazz Sinfônica de São Paulo, mais a minha banda. Eu fui pro teatro pensando nisso. Esse show parecia mesmo que era a última coisa que eu ia fazer. Foi muito forte. Aí pediram vários bis, e eu resolvi cantar Travessia.

Estava todo mundo virado pro público. Quando eu comecei a cantar, um garoto dos Rouxinóis começou a olhar pra mim. Cantei a música inteira sem olhar pra ele, e na última palavra da música, que é “viver”, eu olhei pra ele. Porque naquele momento ele me fez parar totalmente de pensar nessa coisa. Fui pro camarim, as pessoas perguntando o que tinha acontecido comigo, que eu nunca tinha cantado daquele jeito, e pedi para um amigo trazer o menino. Devia ter 10 anos. Disse: “Você sabe o que você fez comigo hoje?” Ele disse: “Sei”. Mas com tanta certeza que eu fiquei olhando pra ele... Eu disse: “Olha, de hoje em diante a gente não pode ficar separado, não. Você faz parte da minha vida”. E ele: “Tudo o que eu queria na minha vida era que você fosse meu pai”. A partir daquele instante, a gente se deu muito bem. Os pais dele me receberam, a gente viajou pra vários lugares, fiz uma música chamada Rouxinol, que é pra ele. Hoje, ele mora aqui comigo, tá estudando aqui no Rio. O pai que ele queria ele teve. Loucura, por que aquele menino tinha de virar naquela hora? Salvou minha vida. Então, é meu filho, meu filho mesmo.

Por falar em menino, até hoje você tem ligação com o Benke...

O Benke já é outra história, de quando eu resolvi fazer o disco baseado nos índios. A gente andou, andou, andou, até que a pessoa que era responsável pela gente, um seringueiro, disse: “Vamos numa tribo que não é nenhuma que você conhece”. Andamos muitos dias. Começamos pelo Juruá, aí subimos outro rio pequeno, e quando a gente estava chegando na casa do cacique tinha um garoto num morro. Ele atravessou o rio de uma maneira que eu nunca vi alguém nadar daquele jeito. Nessa viagem, quando chegava a noite, o Macedo, que era o seringueiro, construía o “hotel do Macedo”: pau, madeira e redes. Eu estava olhando e de repente veio uma mão no meu ombro, até meio pesada. Era o garoto que tinha pulado no rio. Ele me ofereceu um coco. Era o começo da nossa amizade, que graças a Deus está aí até hoje. Era um menino fora de série, com seus 10 anos. Parecia um cara com muitos anos, que conhecia a história do Brasil inteiro, dos índios, e a gente não se largava mais. Até que teve uma noite, na véspera da gente voltar, e a gente fez um luau. Fui cantar e eu chamei o Benke para cantar uma música comigo.

Acontecem comigo umas coisas que nem sei de onde eu tiro. Comecei a cantar Casamiento de Negros, da Violeta Parra. Ele, que não conhecia, veio a música inteira cantando comigo, até o fim. Eu não queria ir embora, queria trazer o garoto. Quando a gente estava indo, o Macedo disse “txai”. Eu achei a palavra bonita. Esperei uns dois dias e perguntei o que queria dizer. Quer dizer: mais que irmão, mais que amigo, a metade de mim que habita em você e a metade de você que habita em mim. Aí botei o nome do disco, Txai (de 1990). Esse pessoal é tão cabeça, são realmente os verdadeiros poetas. Teve (anos depois) uma coisa com o Benke que eu até chorei. Lá no Jardim Botânico (no Rio), ele estava dando uma aula para crianças e, quando prestei bem atenção, pensei: meu Deus do céu, um garoto que eu conheci dando aula para crianças que tinham a mesma idade que ele tinha quando eu o conheci. Me deu um negócio, fui ficando com o coração tão feliz assim que tive de chorar. Ele, realmente, é um pajé. E está fazendo umas coisas na região para melhorar.

Há pouco tempo, você mandou uma mensagem para o Lula, desejando recuperação... Aquilo te sensibilizou?

Sensibilizou muito. Eu tenho uma coisa assim com o Lula, porque de acordo com as coisas que eu vi no filme que fizeram sobre ele, as nossas vidas correm em paralelo, apesar de eu não fazer parte da vida dele. Aí fui compreender, porque todo lugar em que a gente se encontrava ele sempre fazia questão que eu estivesse perto, me chamava, brincava com os músicos... Inclusive foi ele quem me apresentou para a Dilma, nesse show que você falou (do 1º de Maio). Segundo ela, e é verdade, quando era bem novinho a gente foi amigo. Ela começou a falar do Márcio Borges, de mim, das pessoas com quem ela andava, e uma das pessoas era eu. Aí fui lembrando.

Você vai fazer 70 anos...

Dizem...

Isso pesa para você de alguma forma, assusta?

Olha, uma coisa que eu penso é o seguinte: artista não tem idade. Músico, então, não tem mesmo. Eu não guardo aniversário de ninguém. Só o meu, porque todo mundo fica falando e eu acabo tendo de saber. Mas não acredito que eu tenha 69 anos. Não tenho (risos).

Então, em 2012 nada será como antes?

Nada. Inclusive... (mostra a camiseta, na qual se lê “The same as it never was before”). Foi sem querer, não fiz de propósito, não.

Fonte: Rede Brasil Atual