sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Por um novo ENEM


Por Marco Aurélio Rodrigues Freitas

Quem tem mais de 40 anos ou mais de 50, lembra bem dos vestibulares das décadas de 70 e 80, que mobilizavam famílias, escolas e toda uma geração em busca do sonhado diploma universitário. Era o grande momento de avaliação externa do Ensino Médio no Brasil.

Embora mobilizador, esse momento representava também o grande funil da educação brasileira, selecionando os melhores das melhores escolas para os cursos mais badalados e selecionando outros para o restante dos cursos. De 1964 a 1975, o vestibular paulista era dividido em Cescem, Cescea e Mapofei: o primeiro para biológicas, o segundo para humanas e o terceiro para exatas. Em 1976, a USP cria a FUVEST para unificar provas e estabelecer outro padrão de seleção, sem contudo, conseguir desmontar o cenário do funil.

O ENEM, que surgiu em 1998, como a primeira iniciativa governamental de avaliação externa da qualidade do sistema educacional do Ensino Médio, marcou o governo FHC. Transformado na boa idéia de um grande vestibular nacional, o ENEM atual ampliou exponencialmente o número de estudantes inscritos, na casa de 5 milhões em 2011, mas não conseguiu romper com a lógica perversa e excludente da educação brasileira. Pois continuamos presos inexoravelmente ao modelo do funil, que sobrevive há décadas entre nós.

Há dois méritos no atual ENEM: recuperou o clima de mobilização dos anos 70 e 80, agora em caráter nacional, mas com atraso de 30 anos; e vem liquidando a indústria de taxas de inscrição para vestibular cobradas por universidades pelo país afora.

Entretanto, mesmo com o avanço da unificação do vestibular no país, o ENEM ainda não consegue promover a inclusão que se espera dele e não produz melhorias importantes no Ensino Médio. Além disso, a simples aplicação de uma prova nacional não rompe com o círculo vicioso das nossas distâncias sociais entre regiões, acabando por privilegiar alunos de áreas mais ricas que disputam vagas com alunos de regiões mais pobres do Brasil.

Desta forma, para nós petistas, aperfeiçoar o ENEM para transformar de fato o cenário do Ensino Médio brasileiro é fundamental. Com um novo desenho, poderemos dividir o novo ENEM em duas etapas. Na primeira, que seria regional, os alunos seriam avaliados ao final do primeiro e segundo ano do Ensino Médio. Na segunda, que teria o mesmo perfil da atual, a prova seria nacional. A combinação dos três resultados, dois regionais e um nacional, daria ao contingente de alunos do Ensino Médio no Brasil, um resultado mais equilibrado e justo.

Assim, poderemos avaliar o processo de aprendizagem dos alunos nos três anos do Ensino Médio, diminuindo a intensidade do funil do vestibular, a possibilidade de fraudes e transformando o ENEM em um processo contínuo de avaliação e não numa mera prova nacional, que estimula o surgimento de rankings e “cursinhos” de como ir bem no ENEM.

*MARCO AURÉLIO RODRIGUES FREITAS é Historiador, Jornalista e Biomédico. Foi Secretário de Comunicação e Presidente do Diretório Municipal de Osasco. Secretário de Educação de Osasco entre 2005 e 2006. Hoje, professor de História do município de São Paulo e Coordenador pedagógico do Ensino Médio na rede estadual.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Mulheres debatem ações para promover autonomia e igualdade de gênero

 Mais de duas mil participantes – entre elas representantes petistas – reuniram-se por quatro dias em Brasília para debater políticas públicas

Mais de duas mil mulheres se reuniram em Brasília durante a 3ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, realizada nos dias 12 a 15 de dezembro. O encontro reuniu representantes de todos os estados, escolhidas em conferências estaduais e municipais, para debater políticas públicas que promovam igualdade de gênero e autonomia para as mulheres.

“As delegadas confirmaram a importância de um conjunto de políticas que configure o programa nacional de autonomia econômica, financeira e pessoal das mulheres brasileiras”, afirmou a ministra Iriny Lopes, da Secretaria de Políticas para as Mulheres.

As resoluções votadas e aprovadas durante a Conferência serão sistematizadas, compiladas e conduzidas pelo Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) e pela Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) aos órgãos compatíveis e competentes.

As mulheres petistas também participaram da Conferência. De acordo com a Secretaria Nacional de Mulheres do PT, Laisy Morière, a reforma agrária e as políticas para promoção da independência financeira das mulheres são pontos fundamentais para o avanço da igualdade de gêneros no país.

“Vamos criar uma rede para que as mulheres possam ser inserir no mercado de trabalho, primeiro de maneira digna. Segundo, ganhando o mesmo valor que ganha um homem para que ela possa ter sua autonomia econômica, política, social e cultural, e que ela possa cada vez mais intervir na sociedade” explicou Laisy.

Presidenta Dilma e a chilena Michelle Bachelet participaram da abertura
 Assista o Video:

Congresso aprova Plano Plurianual 2012-2015

Emendas aceitas pelo relator, senador Walter Pinheiro (PT-BA), acrescentaram R$ 102 bilhões à proposta inicial. Ações sociais foram contempladas pelo substitutivo aprovado.

O Plenário do Congresso aprovou, nesta terça-feira, o substitutivo da Comissão Mista de Orçamento ao projeto do Plano Plurianual (PPA) 2012-2015. O texto acrescenta R$ 102 bilhões em emendas à redação original, que prevê gastos de R$ 5,4 trilhões nos próximos quatro anos. A matéria, aprovada com adendos do relator, senador Walter Pinheiro (PT-BA), será enviada à sanção presidencial.

Segundo o relator, como esse plano é um instrumento de planejamento, o Parlamento deve lidar com ele sob esse parâmetro. “Elaboramos um PPA que não é só do governo ou da oposição, mas é do Brasil. Ele terá programas temáticos, com grandes empreendimentos detalhados”, afirmou.

Nos quatro anos, está previsto R$ 1 bilhão a mais para aperfeiçoamento do Sistema Único de Saúde (SUS). A Telebrás terá outros R$ 2 bilhões a mais para gerenciar o Plano Nacional de Banda Larga. Já o programa de combate ao crack terá mais R$ 400 milhões. O setor do turismo contará com cerca de R$ 500 milhões a mais que o previsto originalmente.

Para os aeroportos, o PPA reserva R$ 3,2 bilhões no período 2012-2015. Na educação superior, para ampliação e adequação – inclusive de hospitais universitários – o texto estima R$ 2,6 bilhões. O transporte ferroviário terá R$ 8 bilhões.

Walter Pinheiro ressaltou que o Congresso receberá anualmente relatório de acompanhamento da execução do PPA, que poderá ser analisado não só pela Comissão Mista de Orçamento como pelas comissões permanentes das duas Casas.

Fonte: Agência Câmara

País cria 2,3 milhões de empregos formais no ano

Resultado foi o segundo melhor na série do Caged para o período. Em novembro foram gerados 42.735 empregos


O Brasil gerou 2.320.753 postos de trabalho com registro em carteira entre os meses de janeiro a novembro deste ano, equivalentes a expansão de 6,46% em relação ao estoque de empregos de dezembro de 2010. O resultado - que incorpora as informações declaradas fora do prazo (série ajustada) - foi o segundo melhor na série do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) para o período, sendo menor apenas do que em 2010, quando foram abertos 2.918.549 novos postos. Somente em novembro deste ano, foram criados 42.735 empregos formais, alta de 0,11% em relação ao estoque de empregos celetistas do mês anterior.

“É importante ressaltar que o resultado dos meses de janeiro a novembro de 2011, considerando a série ajustada, foi bastante favorável ao atingir a criação de mais de 2,3 milhões de empregos, o segundo melhor desempenho da série histórica para o período. Porém, os dados do CAGED, no mês de novembro, ao apontar a criação de 42.735 postos de trabalho, mostram que o emprego formal continua crescendo, confirmando, porém, uma diminuição de dinamismo que já vinha sendo sinalizada nos últimos meses. Esse comportamento pode ser justificado, em parte, pela presença de fatores sazonais, como também, conjunturais, em razão da repercussão dos efeitos da crise internacional“, explica o ministro interino do Trabalho e Emprego, Paulo Roberto dos Santos Pinto.

Nesse período, a expansão do emprego foi influenciada pelo desempenho positivo em quatro setores de atividade econômica, sendo destaque o Comércio, com 107.920 postos e alta de 1,30%, a maior taxa de crescimento entre os setores e o terceiro maior saldo para o mês na série do Caged; e Serviços, com 53.999 postos e crescimento de 0,36%. Já a Administração Pública contribuiu com 250 postos (+0,03%) e Extrativa Mineral com 129 postos (+0,06%).

Na contramão, tiveram desempenho negativo os setores da Indústria de Transformação, com retração de 54.306 postos (-0,65%) devido a fatores conjuntural e sazonal; Agricultura, com -42.297 postos (-2,55%), devido a fatores sazonais; Construção Civil, com -22.789 postos (-0,82%), resultado influenciado por fatores sazonais (climáticos) e conjunturais; e Serviços Industriais de Utilidade Pública, com perdas de 171 postos de trabalho (-0,04%).

No recorte geográfico, houve elevação do emprego em vinte e uma Unidades da Federação, com três delas apresentando recordes, uma registrando o segundo melhor saldo e duas apontando o terceiro melhor desempenho para o mês. Os destaques, em números absolutos, couberam aos estados do Rio de Janeiro, com 24.867 postos (+0,70%), o segundo melhor desempenho para o mês; Rio Grande do Sul, com 12.875 postos (+0,52%); Santa Catarina, 12.089 postos (+0,66%); Minas Gerais, 5.825 postos (0,14%) e; Paraná, com 5.663 vagas (0,22%).

Já os estados que apresentaram desempenhos recordes foram: Pará, com 4.226 postos (+0,62%); Amapá, 496 postos (+0,76%) e Roraima, com 451 postos ou +1,13%. Influenciados por fatores sazonais e conjunturais, dentre os estados que tiveram desempenho negativo estão: São Paulo (-29.145 postos ou -0,24%); Goiás (-10.466 postos ou -0,96%) e Mato Grosso (-5.791 postos ou -1,02%).

O Caged também mostra expansão do emprego em quatro das cinco grandes regiões: Sul, com 30.627 postos; Nordeste, com 20.089 postos; Norte, com 4.870 postos e Sudeste, com 3.261 empregos. Devido a motivos sazonais e conjunturais, o Centro-Oeste foi a única região a apresentar redução no nível de emprego, equivalente a 16.112 postos (-0,57%).

Caged - Em doze meses, a geração de empregos atingiu 1.900.571 postos de trabalho, correspondendo ao aumento de 5,23%. No período de janeiro de 2003 a novembro de 2011, tomando como referência os dados da RAIS (que abrange Celetistas e Servidores Públicos Federais, Estaduais e Municipais) e do Caged, foram gerados 17.705.195 empregos formais.


Fonte:Assessoria do Comunicação Social MTE

 

2011: um ano de aprendizado e conquistas

Deputado avalia ações de seu mandato, com destaque para a região de Carapicuiba.

Neste primeiro ano na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo foquei minhas ações na luta por melhor qualidade de vida para a população mais carente, com foco na Habitação, Educação e Saúde.

Sugeri com outros dois deputados, a criação da Frente Parlamentar de Habitação Popular e Reforma Urbana, com o objetivo de ampliar as condições de acesso à moradia digna para pessoas de baixa renda. Apresentei o Projeto de Lei 894/11, que determina a isenção do ICMS na compra de automóveis para aposentados e pensionistas e o PL 895/11 que defende a isenção do IPVA para este mesmo público.

Realizei a Audiência Pública de Fornecimento de Energia Elétrica na Alesp e levei as reivindicações para Brasília. Também priorizei por ações para minha cidade do coração, Carapicuíba.

Eu e o prefeito Sergio Ribeiro lutamos por investimentos do Governo do Estado para a Educação como o Programa Creche Escola e outros junto à Fundação para o Desenvolvimento da Educação que resultaram na reforma de prédios escolares.

Apresentei a emenda 4515 determinando investimento de R$ 100 mil para reforma e ampliação de escola e a emenda 539/11 reivindicando o remanejamento de R$ 100.000,00 para a construção de um viaduto no centro da cidade.

Tive 3 emendas ao orçamento aprovadas para Carapicuíba, destinando R$ 500 mil para o asfaltamento de ruas, R$ 150 mil para infraestrutura em praças e R$ 100 mil para a compra de um mamógrafo.Muito novos trabalhos devem ser realizados no próximo ano, já que em 2011 foi o ano da experiência e de conquistas. Tenho muita fé e coragem com os quais sigo para 2012 com objetivos renovados.

* Isac Reis é deputado estadual

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Última Hora, 60 anos

Há 60 anos, nascia o jornal Última Hora, uma das mais importantes publicações do Brasil. Fundada pelo jornalista Samuel Wainer, a UH transformou o jornalismo: instalou máquinas modernas, pagou ótimos salários, adotou paginação inovadora e a atualização das notícias em várias edições ao longo do dia. Seis meses depois do lançamento, era o vespertino mais vendido no país. Nas décadas de 1950 e 1960, abrigava um time invejável de colunistas e cronistas. Em seu auge, chegava a todo o Brasil e tinha sede própria em sete estados.

As questões populares tinham espaço garantido no jornal, que mantinha colunas voltadas para o trabalhador e tratava problemas como o preço do leite com grande destaque. Nas duas décadas em que circulou, o jornal foi marcado por grandes polêmicas. O Observatório da Imprensa exibido ao vivo na terça-feira pela TV Brasil (22/11) relembrou a trajetória deste jornal que é um marco na história da mídia brasileira.

Para discutir este tema, Alberto Dines recebeu a historiadora Alzira Abreu e o jornalista Milton Coelho da Graça. Doutora em Sociologia pela Universidade de Sorbonne, Alzira é historiadora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), onde coordenou a atualização do Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro. Milton Coelho é jornalista há mais de 50 anos. Na Última Hora foi copydesk, chefe de reportagem e editor de primeira página nas décadas de 1950 e 1960. Durante a ditadura militar foi preso por conta de sua atuação no jornal. Nas décadas seguintes, voltou ao jornal como diretor de Redação e comentarista internacional. Milton também trabalhou em O Globo, O Dia e na Editora Abril.

Um repórter empresário
Em editorial, Dines comentou que a Última Hora foi uma “revolução azul”, um divisor de águas. “O vespertino Última Hora antecipou os anos dourados de JK, combinou um jornalismo vibrante, popular, com sofisticação cultural, colocou Nelson Rodrigues ao lado de Vinicius de Moraes, uma dupla impossível e impensável. O grande triunfo deste repórter-estrela que tornou-se dono de uma cadeia de jornais foi justamente a razão de sua queda: os barões da imprensa não queriam um intruso, sobretudo sendo filho de imigrantes judeus”, sublinhou. Para Dines, Samuel Wainer foi um “fabuloso mancheteiro”, sedutor e, ao mesmo tempo, sufocante. Simbolizava um jornalismo de emoções e de inteligência que deixou de existir.

A reportagem exibida no programa entrevistou jornalistas que trabalharam na Última Hora e estudiosos da trajetória deste jornal. A criação da UH reuniu duas figuras carismáticas e polêmicas: o presidente Getúlio Vargas e o jornalista Samuel Wainer. Após deixar o poder com a negativa carga de um governo ditatorial, em 1947, Vargas exilou-se em sua fazenda no Rio Grande do Sul. Wainer era repórter dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, e estava escrevendo uma matéria sobre a produção de trigo quando passou em uma localidade próxima à fazenda de Vargas.

Ousado, foi até a estância e conseguiu uma bombástica entrevista com o ex-presidente, que não falava com a imprensa havia dois anos. Com exclusividade, o então ex-presidente anuncia seu retorno à política. No dia seguinte, Wainer emplaca a histórica manchete anunciando que Vargas voltaria à vida política.

Manchete Histórica
“Getúlio se aproveita desse talento que está ali com ele e diz para o Samuel: ‘Eu voltarei nos braços do povo’. Samuel liga para o Chateaubriand e diz: ‘Olha, temos a manchete. Getúlio me disse que volta’. Aí... ‘Parem as máquinas!’ Enfim, faz-se a primeira página e o jornal dá essa notícia. A partir daí, Samuel vai ficar colado na campanha de Getúlio. Os outros jornais não estão interessados em ter Getúlio no poder”, explicou Joëlle Rouchou, autora deSamuel, duas vozes de Wainer.

Vargas foi eleito em 1950 com larga vantagem sobre os adversários, mas enfrentava dura oposição no meio político e na imprensa. Era preciso um veículo que desse voz ao presidente e Vargas ofereceu a Wainer uma série de facilidades para criar um jornal. Antes de fundar a Última Hora, Samuel Wainer havia trabalhado no Diário de Notícias, em O Globo e nos Diários Associados. Em 1937, lançou a revista Diretrizes, que fizera oposição ao governo Vargas.

Durante todo o governo democrático de Vargas, a Última Hora defendeu abertamente o presidente. “Ele precisava desse contato com o povo porque todos os outros jornais eram inimigos de Getúlio. Ele vinha da revista Diretrizes, que desafiou a ditadura de Getúlio e depois virou amigo de Getúlio. Quer dizer, era uma pessoa muito hábil. Ele acreditava nisso, nessa habilidade de Getúlio”, contou o jornalista Pinheiro Jr., que foi repórter na UH.

Guerra de Jornais
A identificação do jornal com o presidente Vargas rendeu uma série de inimigos à Última Hora. Carlos Lacerda, jornalista e político, antigo amigo de Samuel Wainer, foi o adversário mais ácido da UH. Opositor de Getúlio Vargas, Lacerda moveu uma série de campanhas contra Wainer em seu jornal, a Tribuna da Imprensa. Uma guerra diária que culminou com a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que levou a oposição a cogitar o impeachment de Vargas.

Lacerda acusou Wainer de ter sido favorecido por órgãos oficiais para abrir a UH, sobretudo pelo Banco do Brasil. Também denunciava que Wainer seria estrangeiro e, por isso, não poderia ser proprietário de um jornal no Brasil. Para provar que havia nascido no Brasil, Wainer apresentou depoimentos de integrantes da comunidade judaica que garantiram terem assistido a sua circuncisão no Brasil, quando este seria ainda um bebê.

Joëlle Rouchou afirma que o fundador da UH nasceu, na verdade, na Bessarábia e chegou ao Brasil ainda pequeno. “Uma tia dele me contou que ele tinha nascido lá e aí ele vem para cá como um imigrante que quer vencer”, explicou Joëlle. “Samuel começa uma briga gigantesca através da Justiça para provar que ele era brasileiro. E durante toda a vida dele, Samuel manteve essa história porque ele não queria prejudicar esses senhores que o ajudaram. E ele ganha na Justiça”. Cinco meses depois, Wainer foi absolvido das acusações de favorecimento, concorrência desleal e de ser devedor insolvente. Nada foi provado, naquela ocasião, sobre a condição de estrangeiro.

Um jornal inovador
Uma das características mais marcantes do fundador da Última Hora, de acordo com Joëlle, era descobrir novos talentos. A pesquisadora comentou que Samuel Wainer procurava valorizar os funcionários do jornal: “O Samuel é conhecido como um empresário mas, como já havia sido repórter, conhece as dificuldades de uma Redação de jornal. Ele tem um cuidado com as relações trabalhistas. Ele melhora os salários, sobe os salários dos jornalistas. Dá uma dignidade às fotografias”.

Outra grande diferença entre a Última Hora e os outros jornais do período é a utilização da cor: “É a Última Hora que introduz a cor. Até na logomarca, no logotipo da Última Hora tinha uma cor azul chapada”, lembra Pery Cota, ex-repórter da UH. Para o jornalista, os jornais daquela época eram “bisonhos”, malfeitos, montados muitas vezes na oficina, às pressas. “A Última Hora, não. Era desenhada, tinha cores e as fotografias eram muito abertas. As manchetes eram muito vibrantes. Isso fazia com que o jornal fosse diferente dos outros jornais”, diz.

A Última Hora, na avaliação de Joëlle, sempre defendeu o funcionário: “Apesar de ter várias colunas, de ter um glamour, de ter um charme de toda a elite carioca, que Samuel fazia questão de trazer para dentro do jornal, tinha um fundo de preocupação com essa massa trabalhadora. Eu diria que era um jornal que se queria popular, mas dando um pouco de charme e de purpurinas. Ao mesmo tempo que tinha smoking, eles usavam ‘havaianas’ naquela redação”. Pinheiro Jr. contou que a cena cultural tinha destaque na Última Hora. Em 1953, o jornal lançou a revista Flan. “Era uma revista muito bonita, impressa em policromia e que tinha a colaboração dos maiores intelectuais da época”, disse o jornalista. Pinheiro Jr. sublinhou que era um jornal “popular sem ser popularesco”.

Povo como protagonista
Domingos Meirelles, que foi repórterda Última Hora, contou que o jornal causou um “frisson” na imprensa brasileira. “O Samuel contrata os melhores profissionais e monta uma redação extraordinária. Agora, na minha visão, o que a Última Hora conseguiu era reproduzir os sentimentos do cidadão comum, as suas queixas, as suas aflições. A Última Hora era um espelho da realidade brasileira que você não encontrava em outros jornais”. Pery Cota também comentou a importância que a cidadania tem na Última Hora: “É um jornal de cidadania. É um jornal de interesse público. É um jornal voltado para as comunidades, para a sociedade, para o meio sindical, para a área de Educação como evolução, como plataforma para o sujeito conseguir um bem estar maior”.

A Redação da UH tinha grandes estrelas. Domingos Meirelles contou como era o clima entre os funcionários: “Eu me lembro bem, por exemplo, do Nelson Rodrigues, torcedor do Fluminense, sempre muito mal humorado. Sempre que o Nelson Rodrigues se afastava da máquina de escrever, as pessoas se aproximavam, principalmente o pessoal da editoria de Polícia, vizinhos de mesa do Nelson Rodrigues, e continuavam o texto. Acrescentavam duas, três, quatro palavras. E ele sentava, continuava escrevendo e não percebia. Eu ficava chocado, indignado com esse tipo de comportamento irreverente da redação, mas a Última Hora era assim”.

Após a morte de Getúlio Vargas, em agosto de 1954, Samuel Wainer começou a enfrentar uma série de dificuldades para manter o seu empreendimento. Nos anos seguintes, a Última Hora apoiou os governos de Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart. Em 1964, após o golpe militar, Samuel Wainer teve seus direitos políticos cassados e exilou-se na França.

Anos de Chumbo
“A Última Hora era um jornal que defendia o restabelecimento do Estado de Direito e a volta da democracia e das garantias individuais. E a Redação tinha uma independência que hoje me parece quase que uma fantasia. O [setor] Comercial dificilmente interferia na linha editorial do jornal, ou melhor, a Redação impedia que o Comercial interferisse na linha editorial”, relembrou Domingos Meirelles. Samuel Wainer voltaria ao Brasil três anos depois, quando reassumiu a direção do jornal. Em 1971, afogado em dívidas, o vendeu. Com outros proprietários e sem o mesmo charme, a UH interrompeu definitivamente a circulação em 1991.

Para Pinky Wainer, filha de Samuel e Danuza Leão, mesmo nos momentos mais duros, o pai sempre foi otimista: “O problema do Samuel é que ele vendia para nós o ‘marketing das vidas’ – e isso é uma coisa que eu passei para os meus filhos, eles estão passando para os deles, meus netos –, que era a melhor das vidas. A gente estava junto, não tinha muito dinheiro, mas ele fazia uma graça, fazia um charme e quando a gente via estava na melhor das vidas”.

Nasce o Corvo
O chargista Lan contou a história da sua mais famosa caricatura, o Corvo Lacerda, encomendada por Samuel Wainer para criticar o uso político que Lacerda fazia da morte do repórter Nestor Moreira, de A Noite, que fora espancado pelo policial Paulo Ribeiro Peixoto, conhecido como Coice de Mula. Wainer pediu a Lan que caprichasse no desenho para passar a impressão de Lacerda como um papa-defunto. Mas o chargista tinha um compromisso às oito horas e vinte minutos daquela noite e não pretendia demorar a sair do jornal. Primeiro, pensou em usar a imagem de um urubu, mas precisaria consultar o arquivo para lembrar exatamente como era o animal. Então, lembrou-se de outra ave associada à morte, o corvo:

“Eu fiz aquele negócio truculento e cheguei ao encontro às oito horas e dezoito minutos, para se ter uma idéia de como corri com este desenho que até hoje, para meu gosto, acho o pior desenho que fiz na minha vida. E foi o que me deu mais notoriedade. No dia seguinte, eu estava com esta carga na consciência: ‘Poxa, o Samuel me pediu para caprichar e eu fiz a droga desse corvo...’ ”. Lan contou que chegou à Redação e encontrou Danton Coelho, presidente do PTB, e Samuel Wainer. Surpreso, foi abraçado energicamente e parabenizado. Para o presidente do partido, o chargista tinha feito um trabalho psicológico genial.

No debate ao vivo, Alzira Abreu explicou que a UH solidificou as mudanças que vinham ocorrendo na imprensa brasileira: “Era uma imprensa partidarizada, que tinha uma linguagem muito agressiva, usava muito adjetivo. Não era financiada pelos partidos, mas se declarava claramente a favor deste ou daquele partido. E Samuel Wainer vai mudar um pouco este modelo”.

Redação plural
A historiadora pontuou que o objetivo de Carlos Lacerda com as campanhas contra a UH não era atingir Samuel Wainer, e sim o presidente Getúlio Vargas. Com a morte de Vargas, a população se volta contra Carlos Lacerda e Wainer recupera seu prestígio. Então, Lacerda começa uma nova campanha contra Wainer dizendo que o proprietário da UH era comunista e que o jornal era um órgão do Partido Comunista.

A Redação da Última Hora, para Milton Coelho da Graça,era uma amostra do Rio de Janeiro: “Tinha gente de todos os pensamentos, tinha de tudo. Tinha comunista, udenista, tinha preto, tinha branco, tinha chinês, tinha o diabo. Era uma Redação democrática pela sua aparência. Ela ficava perto da área de prostituição. Ela tinha até uma aproximação deste tipo com a alma popular carioca”. Para o jornalista, a UH não foi apenas uma revolução na técnica jornalística e nas artes gráficas: “Ela foi uma revolução de espírito da imprensa brasileira. A UH era um jornal moderno, era o Brasil se transformando”.

Dines questionou se 60 anos depois do lançamento da Última Hora a “fórmula” poderia ser adaptada para os dias de hoje. Milton Coelho avaliou que a imprensa perdeu a ousadia na concepção dos jornais: “Se você olhar bem, nossos jornais estão parados no tempo”. Alzira comentou que Samuel Wainer acompanhou as mudanças pelas quais o Brasil passava em seu processo de modernização das instituições e de industrialização. “Os jornais hoje deveriam ter um pouco mais do espírito de Samuel Wainer de ousadia, de criatividade, de vibração”, disse a historiadora. Dines comentou que a imprensa precisa se espelhar na entrega total ao ofício de Samuel Wainer, que “só pensava em jornal”.

Classe trabalhadora: assista ao documentário sobre Assistência social

"O que sintetiza a nossa profissão é: Garantir direitos", assim Pollyana Moreira define a profissão que escolheu para si, como assistente social.

A secretaria de comunicação do PT lança este mês mais um documentário da série "Classe Trabalhadora". Dessa vez a série traz à tona a importância dos Assistentes Sociais, os trabalhadores responsáveis pela inclusão social, propondo ações para melhorar mudanças de vida em nossa sociedade.

Para Tereza Campello, a Ministra do Desenvolvimento Social e do Combate à Fome, os profissionais da assistência social são fundamentais: "Eles executam uma grande parte das nossas ações. São eles que organizam o programa Bolsa Família, fazem o Cadastro Único, e agora no Brasil Sem Miséria, mais ainda", diz.

Segundo dados do IBGE, o Brasil tem 16,2 milhões de pessoas vivendo na linha da "extrema pobreza". Isso equivale a 8,5% da população vivendo com renda per capita igual ou menor a 70 reais, atingindo quase um em cada dez brasileiros.

O trabalho do assistente social ocorre nos bastidores da sociedade, assim explica a ministra Tereza Campello, "Muita gente não consegue ver a extrema pobreza e também não conseguem ver aqueles profissionais que trabalham com estes invisíveis".

Apesar da sutileza do trabalho, a importância da função dos assistentes sociais gera indivíduos realizados com seu papel, é o caso de uma das entrevistadas pela série Classe Trabalhadora: "Sou muito feliz e sou uma pessoa realizada. Costumo dizer que se tivesse que viver uma nova vida, eu escolheria a profissão de Assistente Social", conclui a assistente social formada há 30 anos, Nilsoneides Queiroz.

(Gustavo Serrate - Jornalista)