terça-feira, 16 de julho de 2013

Para o gigante, já acordado, caminhar melhor

A tese do “gigante acordou”, acarinhada pela direita conservadora e pela grande mídia no período das manifestações recentes, é uma fantasia manipulatória neoliberal. Ela tem por objetivo criar um caldo ideológico destinado a “naturalizar” a tese de que o Brasil precisa embarcar nas “reformas” que vem sendo feitas, atualmente, no continente Europeu.

Esta fantasia faz um jogo sujo, do ponto de vista histórico, para promover uma omissão que torna invisível o povo trabalhador e outros atores sociais progressistas, no processo das grandes lutas que precederam e sucederam a Constituição de 88.

As conquistas que dela derivaram, as lutas respondidas com assassinatos e torturas contra o regime militar, a luta pelas diretas, pela Constituinte, o “Fora Collor”, a eleição de Lula em 2002, promoveram extraordinárias conquistas políticas e sociais, com grande influência da esquerda que, para os promotores do “gigante acordou”, não passaram de um embuste, que agora os tecnocratas dos “ajustes” de segunda geração colocarão no seu devido lugar. Trata-se de iludir que, como gigante estava dormindo, nada ocorreu no período que precedeu as manifestações. E que a suposta “letargia” do país, até agora, abrir-se-á para uma dinâmica democrática nova, patrocinada como uma grande novela das oito, ajustada certamente com o tucanato e os zumbis pefelistas que ainda restam.

A leva de manifestações que antecedeu o dia nacional de lutas de 11 de junho, mobilizadora de milhões de pessoas no país, confrontada com a modesta mobilização conseguida pelas centrais naquela data, inclusive a denominada "Conlutas", obriga a esquerda que governa dentro da democracia política - o que se dá necessariamente com alianças problemáticas - a repensar sua estratégia para o próximo período. As conexões entre "tática" e "ética" - no contexto de uma crise econômica mundial que não será solucionada com legitimidade nos quadros da atual democracia representativa - voltam com toda força.

Não se trata de desprezar alianças ou de avocar-se um "purismo" irreal para fazer política. Este "purismo" só existe como aparência, naquela parte das classes médias conservadoras, quando os seus líderes preferidos pensam em aumentar algum imposto ou não estão governando de acordo com os seus interesses imediatos. Trata-se, penso, de avaliar como se dará o sistema de alianças, necessário para o próximo período, considerando um Congresso majoritariamente conservador e desligado do mundo real. Um Congresso regionalizado nas suas relações políticas e que só se move perante uma forte pressão para salvar sua pele, seja para que "lado" for.

De outra parte, quando nos referimos às relações entre "tática" e "ética", estamos falando de interdependência entre "fins" e "meios". Ou seja, em que ponto da estratégia política as alianças deixam de ser táticas e passam a ser "taticismos". Quando é que os meios (alianças), passam a ser um fim em si mesmo (estagnantes), apenas usados para manter uma certa hegemonia (esgotada) que, no concreto, já não faz mais o projeto avançar, bloqueando os fins do projeto pensado na Revolução Democrática? (Esta, significando a recuperação das funções públicas do Estado, a combinação dinâmica da democracia representativa com a democracia direta, a promoção de um modelo de desenvolvimento não tutelado pelo capital financeiro globalizado: mais políticas públicas de Estado, mais participação, mais igualdade, empregos, trabalho de qualidade e proteção social digna).

As amplas mobilizações sociais deste período, não só não devem ser desconhecidas, como também não podem ser desqualificadas pela fragmentação da sua pauta. As simpatias que elas suscitaram na grande mídia, a ausência de lideres visíveis ou mesmo a forte adesão dos setores mais conservadores da sociedade, que se manifestavam “contra tudo”, contra os políticos em geral e contra os partidos, não tira o seu valor político. Foi, ainda, uma manifestação em parte alienada, pois fulminava por igual as instituições partidárias, que mesmo apenas aderentes poderiam se opor às manipulações do senso comum pelo fascismo ou pelo anarco-direitismo, como ocorre com frequência nestas oportunidades.

A verdade é que, majoritariamente, foram manifestações populares de inconformidade e “mal estar”, pelas mais variadas causas. E tiveram o mérito de mostrar a desqualificação das estruturas de saúde pública e do transporte coletivo, principalmente nas grandes regiões metropolitanas, que não mereceram atenção responsável dos governantes, pelo menos nos últimos vinte anos. O movimento foi aproveitado para tentar reorganizar um sentimento de repulsa à esquerda e ao governo Dilma? Foi, é óbvio.

A grande mídia induziu-o, assim como fabricou a tese do "gigante que acordava". E ela mesma vibrava de ira cívica e arrogância, até que se deu conta que também estava na linha de tiro: os controlados se rebelaram contra os seus controladores no processo de formação da opinião. Uma mobilização política daquela dimensão não emerge sem ter base, em alguma medida, nas fortes desigualdades sociais e nos contrastes entre pobreza e riqueza, que caracterizam o “capitalismo real”. Isso supõe, em consequência, um descontentamento com quem sempre defendeu os ajustes do sistema financeiro e a ordem social que promoveu as desigualdades, que também estavam sendo impugnadas nas ruas.

Um mero manifesto nas redes, como diz Manuel Castells, não mobiliza ninguém. As mobilizações ocorrem quando têm bases na vida diária das pessoas e no seu anseio efetivo por mudanças, que inclusive supõem a democratização da circulação da opinião e um sistema de informação plural, no âmbito das comunicações, atualmente controladas por quem apoia a globalização financeira do mundo, tal qual ela é orientada pelo Banco Central Europeu e pelo FED.

São os que promovem os "ajustes" em Portugal, Espanha, Grécia, Itália, extinguem empregos sem criar outros melhores e fazem-no com a mesma voracidade que submetem a democracia aos seus tecnocratas da especulação, tornando irrelevantes os governos e as eleições. Quando a grande mídia começou alertar que o "gigante acordou", boa parte do povo nas ruas entendeu, na verdade, que se tratava - para esta "companheira de mobilização" - de desmantelar conquistas e não de avançar para um novo patamar de democracia e de ampliação dos direitos, conquistados nos últimos trinta anos de democracia e dez anos de governos progressistas no país.

Apanhado de surpresa com a intensidade do movimento o Governo Federal reagiu abrindo um diálogo formal e propondo medidas para incorporá-lo no patrimônio político da República. Esta estrutura política demonstrou, no entanto, estar mais atrasada, quanto ao seu sistema de representação, do que os movimentos “diretos” de rua, que clamavam por mais participação, mais Estado e Estado mais eficiente. Este “atraso” das instituições políticas da democracia representativa já está patente na digestão que o Congresso atual (pelas as suas maiorias partidárias) está fazendo do aspecto mais arrojado da proposta presidencial: o plebiscito.

O processo plebiscitário, que tanto pode servir de avanço para a participação da sociedade na resistência à crise econômica global, relegitimando pela reforma o Estado Democrático de Direito em franca crise, como para recuperar a dignidade da política - envilecida pelas maiorias partidárias e pelo financiamento empresarial das campanhas - parece que vai ser substituído pelo pragmatismo eleitoreiro, que envolve tanto a oposição conservadora como grande parte da base do governo.

Este é o ponto central, de cuja análise seremos capazes de desenhar uma estratégia para o próximo período, que envolva tanto as eleições presidenciais de 2014, os efeitos dos movimentos sobre elas, bem como a continuidade da ação das redes e das mídias, já como sujeitos determinantes e permanentes da luta política. Aquelas, as redes, com uma influência ainda maior -para o bem o para o mal- na formação da opinião, de forma externa à democracia de partidos que carregamos até agora.

O sistema de alianças atual, no plano nacional, foi montado para sustentar um governo que, no contexto do conservadorismo neoliberal mundial do início do século XXI, precisava ser extremamente defensivo para governar um país quebrado. Com uma relação Dívida x PIB alarmante, carente de infra-estrutura mínima (mesmo para dar um pequeno “salto para frente”), com inflação elevada, juros altíssimos e com total falta de credibilidade perante um sistema financeiro mundial asfixiante não se constituiu, no primeiro governo Lula, uma aliança programática explícita. Constituiu-se uma aliança pragmática, defensiva de uma governabilidade mínima, necessária para iniciar algumas mudanças no país, que o então Presidente conduziu a sua melhor possibilidade.

Hoje seria necessário que os partidos de esquerda se unissem e promovessem um processo inverso: as alianças a partir do programa. Não mais um programa “espontâneo” que coopte alianças de sobrevivência, que em 2002 foram inevitáveis, mas desenhar um programa de avanços, tanto no modelo de democracia política, como no modelo de crescimento com inclusão e pleno emprego, apontando de forma clara a origem dos recursos para áreas "chaves".

Formar as alianças com um programa capaz de dar um novo impulso ao iniciado em 2002: fundos específicos e vinculados para a reforma agrária; para a mobilidade e o transporte coletivo urbano; para a saúde pública e a educação, com os percentuais do PIB respectivos - crescendo ano a ano - para cada setor, vislumbrando o ponto ótimo à médio prazo. Colocar, assim, explicitamente em lugar dependente, os demais compromissos orçamentários e inverter, desta forma, a hierarquia orçamentária atual, que tem na dívida e não no povo, o seu fator determinante.

No plano político o programa deveria explicitar as novas formas de participação direta, presencial e virtual, as políticas de referendo, plebiscito e consulta, abrindo caminhos para uma democracia de alta intensidade e participação, com estabilidade e previsibilidade. Hoje seria necessário, portanto - para que o próximo governo não seja um governo de crise - desenhar as alianças a partir de um programa claro, não confeccionar as alianças para daí resolver o que fazer.

É preciso, para que isso ocorra, que o PT como partido majoritário da esquerda, volte a ser um partido-sujeito, de governo, de luta e de movimento. Não seja apenas um “partido-apoio”, que até agora pode ter cumprido uma boa missão, mas que está visivelmente esgotada. Não é que “o gigante acordou, finalmente”, como sugeriu a grande mídia, pois ele já estava bem alerta. É que agora ele quer caminhar por paisagens mais verdejantes, que o neoliberalismo e o conservadorismo em geral, não tem a menor possibilidade de oferecer. Pode, o PT?

* Tarso Genro é governador do estado do Rio Grande do Sul

**Publicado originalmente na Carta Maior

sexta-feira, 12 de julho de 2013

O teste da Globo passou no teste das ruas. Novos atos virão

De repente uma palavra surge sobre o símbolo da Globo e outra a substitui na sequência.
Mente foi a primeira. Sonega, depois.

De onde surgiu aquilo? Quem mirava o projetor com tamanha criatividade contra a toda poderosa de tantos tempos e governos?

Era uma poderosa rede articulada ou apenas dois garotos criativos?

E a música? Quem era o puxador de samba daquela bateria?

Quem era aquela menina que parodiava a música tema do carnaval global?

E a galera com raiva e rostos cobertos? Quem eram os meninos que se diziam blacks blocs?

Quem era aquela gente nova numa manifestação pela democratização da mídia?

Quem eram eles que se misturavam ao Intervozes, ao Barão de Itararé e ao pessoal do MST e o Levante Popular?

Quem eram eles que estava ali com o Movimento Passe Livre e da Mídia Livre? Quem eram os ninjas que não eram da Pós TV?

Eles junto com o Lalo, o Sérgio Amadeu, o Miro, o João Brant e o Igor Felippe. Eles os pichadores sem medo e as meninas corajosas da primeira fila. Eles e elas que ignoraram a polícia e seus helicópteros.
A marcha de ontem à noite na frente à Globo marcou.

Uma TV inóspita e pouco acessível. Que fica num lugar inóspito e pouco acessível. Numa cidade, convenhamos, bastante inóspita como São Paulo. Mesmo assim éramos ao menos uns 2 mil por lá.

Aliás, daria para comparar a manifestação noturna de ontem na frente da Globo, que não tinha um único figurante, com a dos médicos na Paulista. A deles, segundo o Jornal da Globo do dia, teria 5 mil. Sendo assim, 5 mil para a de ontem também.
Passa bastão
Bastão passado. Havia muitos e muitos jovens putos, putíssimos com a TV dos Marinhos. Gente que quer ocupar a Globo. Que quer ocupar o Congresso. Que quer ocupar o Ministério das Comunicações. Que quer ir até as últimas consequências para mostrar que não aceita mais este jogo nas comunicações. Que quer derrubar o Paulo Bernardo e sua mentalidade lobista.
E tudo indica que isso vai continuar.
(Foto: Elisa/Centro de Mídia Independente)
A partir de hoje a Globo virou alvo. E a democratização das comunicações uma pauta das ruas.
Que bom que havia muitos jovens e a boa energia do Passe Livre.
E que bom que o MST estava lá.
Há coisas novas acontecendo. E em algum momento isso haveria de acontecer. A Globo se tornaria alvo.
Do que é movimento novo. E do que supostamente é movimento tradicional.
A Globo não poderia passar ao largo de um momento histórico como este que vive o Brasil.
Era preciso um movimento global contra a Globo.
O que aconteceu hoje foi só o começo.
As redes vão amadurecer o que aconteceu nas ruas. E vão articular novas ruas.
Redes e ruas vão criar ainda muitos problemas para quem se achava acima deles, a Globo.
*Renato Rovai, em seu blog

quarta-feira, 10 de julho de 2013

É preciso ir para as ruas em busca de milhões de assinaturas exigindo o plebiscito

Apesar de líderes partidários terem anunciado que descartaram a realização do plebiscito da reforma política para valer já em 2014, nem o governo e nem o PT desistiram da consulta. Pelo contrário, já avisaram que vão continuar lutando para tirar o plebiscito do papel.

Os líderes partidários substituíram a ideia de plebiscito pela criação de um grupo de trabalho para debater o tema, com a possibilidade de fazer um referendo depois.

Mas o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse que o governo mantém sua convicção no plebiscito, a melhor maneira de ouvir a voz da população sobre um tema importantíssimo. "Não vamos abandonar de maneira nenhuma a ideia da consulta, a ideia da participação, a ideia da reforma política, são eixos que se estruturam numa perspectiva de mudar de fato aquilo que o povo quer que se mude, que é nossa cultura política no país", diz o ministro.

Tem todo o nosso apoio o ministro. A decisão dos líderes, na verdade, se trata fundamentalmente sobre o PMDB, já que, se ele apoiar a iniciativa de PT-PCdoB-PDT (que querem o plebiscito), com certeza juntos poderiam aprovar a proposta da presidenta Dilma Rousseff.

O PSB,como vemos, ficou contra a consulta popular. Já os demais partidos sempre foram contra a reforma política, com exceções como o DEM.

Não resta ao PT outro caminho que não seja o de apelar para a cidadania e as ruas, ao mesmo tempo que, junto como PCdoB e o PDT, tentar colher assinaturas de 171 deputados para um decreto legislativo convocando o plebiscito.

O PT deve buscar apoio para uma emenda de iniciativa popular convocando um plebiscito para a reforma política, mobilizando a maioria da sociedade, que apoia a consulta e quer as mudanças.

Ir para as ruas do país em busca de milhões de assinaturas exigindo a reforma política via plebiscito.

Combate à corrupção

O ministro Gilberto Carvalho diz que o plebiscito precisa ter efeito nas eleições de 2014. "Não consigo imaginar um combate adequado à corrupção sem uma reforma política. O povo pediu, quer uma mudança política de profundidade. Acho que a presidenta acertou em cheio quando lançou essa proposta porque ela corresponde exatamente ao anseio mais profundo das ruas que é o anseio pela renovação na política", disse.

"Vamos ver que passo podemos dar, há outras possibilidades que temos que discutir com a sociedade. Seguiremos dialogando. O governo abriu os ouvidos para as ruas, teve e tem sensibilidade."

*José Dirceu, em seu blog

sexta-feira, 5 de julho de 2013

A covardia europeia contra o presidente Evo Morales

Os europeus, os campeões da defesa da democracia, do Estado de Direito e da liberdade, demonstraram que suas relações com a Casa Branca estão acima de tudo e que podem pisotear os direitos de um avião presidencial caso isso seja preciso para que o grande império não se incomode com eles. Um rumor infundado sobre a presença no avião presidencial boliviano do ex-espião estadunidense Edward Snowden, conduziu a um sério incidente diplomático aeronáutico entre Bolívia, França, Portugal e Espanha.

 

 Paris - Os europeus são incorrigíveis. Para não ficar mal com o império norteamericano são capazes de violar todos os princípios que defendem nos fóruns internacionais. O presidente boliviano Evo Morales foi o último a experimentar as consequências dessa política de palavras solidárias e gestos mesquinhos. Um rumor infundado sobre a presença no avião presidencial boliviano do ex-membro da Agência Nacional de Segurança (NSA) norteamericana, o estadunidense Edward Snowden, conduziu a um sério incidente diplomático aeronáutico entre Bolívia, França, Portugal e Espanha. 

Voltando de Moscou, onde havia participado da segunda cúpula de países exportadores de gás, realizada na capital russa, Morales se viu forçado a aterrissar no aeroporto de Viena depois que França, Portugal e Espanha negaram permissão para que seu avião fizesse uma escala técnica ou sobrevoasse seus espaços aéreos. Os “amigos” do governo norteamericano avisaram os europeus que Morales trazia no avião Edward Snowden, o homem que revelou como Washington, por meio de vários sistemas sofisticados e ilegais, espionava as conversações telefônicas e as mensagens de internet da maioria do planeta, inclusive da ONU e da União Europeia.

O certo é que Edward Snowden não estava no avião de Evo Morales. No entanto, ante a negativa dos países citados em autorizar o sobrevoo do avião presidencial, Morales fez uma escala forçada na Áustria. As capitais europeias coordenaram muito bem suas ações conjuntas para cortar a rota de Evo Morales. Surpreende a eficácia e a rapidez com que atuaram, tão diferente das demoradas medidas que tomam quando se trata de perseguir mafiosos, traficantes de ouro, financistas corruptos ou ladrões do sistema financeiro internacional.

Segundo a informação da chancelaria boliviana, o avião havia obtido a permissão da Espanha para fazer uma escala técnica nas Ilhas Canárias. Essa autorização também foi cancelada e, finalmente, o avião teve que aterrissar no aeroporto de Viena. Segundo declarou em La Paz o chanceler boliviano David Choquehuanca, “colocou-se em risco a vida do presidente que estava em pleno voo”. “Quando faltava menos de uma hora para o avião ingressar no território francês nos comunicam que tinha sido cancelada a autorização de sobrevoo”. O ministro pediu uma explicação tanto da França quanto de Portugal, país que tomou a mesma decisão que a França.

“Queriam nos amedrontar. É uma discriminação contra o presidente”, disse Choquehuanca. Em complemento a esta informação, o portal de Wikileaks também acusou a Itália de não permitir a aterrisagem do avião presidencial boliviano. Em Paris, o conselheiro permanente dos serviços do primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault disse que não tinha nenhuma informação sobre esse assunto. Por sua vez, a chancelaria francesa disse que não estava em condições de comentar ocaso. Bocas fechadas, mas atos concretos.

Ao que parece, todo esse enredo se armou em torno da presença de Snowden no aeroporto de Moscou. Alguém fez circular a informação de que Snowden estava no aeroporto da capital russa com a intenção de subir no avião de um dos países latino-americanos dispostos a lhe oferecer asilo político. Snowden é procurado por Washington depois de revelar a maneira pela qual o império filtrava as conversações no mundo. O chanceler boliviano qualificou como uma “injustiça” baseada em “suspeitas infundadas sobre o manejo de informação mal intencionada” o cancelamento das permissões de voo para o avião de Evo Morales. “Não sabemos quem inventou essa soberana mentira; querem prejudicar nosso país”, disse Choquehuanca. “Não podemos mentir à comunidade internacional e não podemos levar passageiros fantasmas”, advertiu o responsável pela diplomacia boliviana.

Em La Paz, as autoridades adiantaram que não receberam nenhum pedido de asilo por parte de Edward Snowden. Evo Morales havia evocado a possibilidade de conceder asilo a Snowden, mas só isso. O mesmo ocorreu com outra vítima da informação e da perseguição norteamericana, o fundador do Wikileaks, Julian Assange. O mundo ficou pequeno para Edward Snowden. 

Assange está refugiado na embaixada do Equador em Londres e Snowden encontra-se há dez dias na zona de trânsito do aeroporto de Sheremétievo, em Moscou. Segundo Dmitri Peskov, o secretário de imprensa do presidente Vladimir Putin, o norteamericano havia solicitado asilo a Rússia, mas depois “renunciou a suas intenções e a sua solicitação”. Peskov esclareceu, porém, que o governo russo não entregaria o fugitivo para a administração norte-americana: “o próprio Snowden por sincera convicção ou qualquer outra causa se considera um defensor dos direitos humanos, um lutador pelos ideais da democracia e da liberdade pessoal. Isso é reconhecido pelos ativistas e organizações de direitos humanos da Rússia e também por seus colegas de outros países. Por isso é impossível a entrega de Snowden por parte de quem quer que seja a um país como os EUA, onde se aplica a pena de morte.

Quando se referiu ao caso de Snowden em Moscou, Evo Morales assinalou que “o império estadunidense conspira contra nós de forma permanente e quando alguém desmascara os espiões, devemos nos organizar e nos preparar melhor para rechaçar qualquer agressão política, militar ou cultural”. Os europeus, os campeões da defesa da democracia, do Estado de Direito e da liberdade, demonstraram que suas relações com a Casa Branca estão acima de tudo e que podem pisotear os direitos de um avião presidencial caso isso seja preciso para que o grande império não se incomode com eles.


Por Eduardo Febbro.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Passe livre, em cotia



Em Cotia, nenhum estudante matriculado em escola pública, estadual ou municipal, que more a mais de 2 km da escola paga passagem. Aqui o passe livre vigora desde 1993. Mas isso não foi uma bondade da prefeitura ou das administrações desta cidade, foi uma conquista dos estudantes de Cotia e da militância do PT.

O ano era 1992, eu estudava na escola Antonieta de Lascio Oseki, no Jardim Claudio. O movimento estudantil estava bastante organizado e tínhamos uma militância da juventude do PT muito ativa. No ano seguinte, houve a orientação do PT para que eu fosse estudar na Escola Pedro Casemiro Leite.

A luta pelo passe livre acontecia em diversas cidades, além de Cotia, como Goiânia, Rio de Janeiro, São Bernardo do Campo, Osasco, Belo Horizonte e São Paulo. Destas cidades, a única que havia conquistado nas ruas pela organização política do PT, foi Cotia!

Aonde esta juventude chegava, impunha respeito!

Na periferia, as opções sempre foram poucas... Normalmente, tudo acontece mais cedo, os jovens engravidam mais cedo, casam-se cedo por que a vida não permite fazer planos de longo prazo. Por razões semelhantes, também na periferia se morre mais cedo, porque a violência anda na contramão das oportunidades, que até aparecem, mas aí falta estudo, falta preparo e a vida continua diminuindo as chances das juventudes.

O sonho do Passe Livre sempre foi ligado a uma questão da juventude estudantil que mora em centros urbanos! Talvez o maior motivador da desistência escolar é a falta de condições econômicas para que um estudante possa chegar à escola.

A evasão escolar tem uma relação muito direta com esta condição ou a falta dela. Muitos colegas de turma de minha época, e provavelmente hoje aconteça a mesma coisa, desistiam dos estudos porque não tinham dinheiro todos os dias pra pagar a passagem ou pagar os passes escolares! Lembro que a principal razão de minhas faltas na escola eram os dias chuvosos, quando não dava pra ir andando até à escola, a opção era ir de ônibus, mas não tinha dinheiro... Então, restava faltar! Perdia provas, trabalhos e isso incentivava a desistência!

O PT era organizado nas escolas com uma marca. Era um nome Grêmio Estudantil Nossa Luta, que tinha como mascote, a Graúna do Henfil, era esta marca que ligava os Grêmios ao PT.

Em 1992, o Brasil viveu uma situação fantástica de efervescência política da juventude. Alguns dizem que foi algo planejado pela Globo, mas assim como este momento que estamos vivendo agora, não era... A diferença é que em 1992, havia um processo organizado, ideológico e com direção clara...


Durante praticamente todas as semanas de 1991 e 1992, a juventude estudantil de Cotia foi para as ruas. Conseguimos que a Câmara aprovasse a lei em 1992! Em 1993 e 1994 a luta era para que a lei fosse cumprida e depois para garantir que o passe chegasse a todos os alunos! Tempos de luta, de alegrias e de vitórias... São tempos assim que nossa juventude busca!

Olhando para os dias de hoje, me sinto muito feliz... Faço parte desta história!

*Toninho Kalunga – Foi líder estudantil nos anos 90, Conselheiro Tutelar entre 1995 e 1998 e vereador por dois mandatos, entre 2005 e 2012 em Cotia.