segunda-feira, 26 de março de 2012

Maior sindicato de jornalistas do país pode eleger primeira mulher presidente

A jornalista Bia Barbosa pode se tornar a primeira mulher eleita a presidir o maior sindicato de jornalistas profissionais do país, o de São Paulo, que realiza eleições de 27 a 29 de março. Para isso, terá de vencer a chapa do atual presidente, José Augusto Camargo, o Guto, que disputa a reeleição.

Segundo ela, o sindicato vem perdendo filiados nos últimos anos, o que enfraquece a luta por melhores condições de trabalho e por grandes temas nacionais, como o marco regulatório das comunicações, que é discutido no governo federal.

"Renovação é fundamental para oxigenar o sindicato", diz ela, que foi editora da Carta Maior e que hoje, além de militar pela democratização das comunicações no Coletivo Intervozes, atua como assessora do deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP).

Leia a seguir os principais trechos da entrevista exclusiva concedida por Bia Barbosa. Para mais informações sobre suas propostas, acesse o site www.sindicatopralutar.com.br. A Carta Maior também solicitou, na última sexta-feira (16), entrevista a Camargo, mas ainda não recebeu resposta sobre o pedido.

Carta Maior - Sua chapa defende um novo marco regulatório das comunicações, cujo debate avança lentamente no governo federal. Por que esse é um tema central?
Bia Barbosa - O desafio de trazer uma nova regulação está diretamente relacionado à consolidação da democracia brasileira. Com a sociedade atual mediada pelos veículos de comunicação, precisamos garantir que essa mediação seja feita de modo plural e aberto. Hoje o cenário é de exclusão. Etnias, gênero e diferentes regiões do país não têm espaço para se expressar nos meios de comunicação de massa. O novo marco regulatório precisa tratar de uma agenda que é ainda do século passado, de regulação de trechos da Constituição, do monopólio, da produção regional independente e do direito de resposta. Mas é também necessário olhar para frente, porque o processo de convergência tecnológica, se não regulado, pode gerar mais concentração dos meios.

CM - A grande mídia demoniza esse debate, sob argumento de que regular significaria impor controles sobre a liberdade de expressão. Mas países ditos desenvolvidos regulam o setor, não?
BB - O discurso de quem é contra a regulação é o discurso de quem defende a manutenção do status quo. São interesses políticos e econômicos muito poderosos que estão em jogo. Mas a verdade é que as democracias mais avançadas do mundo possuem formas de regulação das comunicações. Elas possuem órgãos reguladores que monitoram os meios de comunicação de massa, proíbem propriedade cruzada, estabelecem cotas para produção nacional ou regional, protegem os direitos de crianças e adolescentes, barram o discurso do ódio, como racismo, homofobia e machismo. É isso que a gente vê em países como França, Inglaterra e Estados Unidos.

CM - Como está o trâmite do projeto dentro do governo federal?
BB - Há uma minuta pronta desde o final do governo Lula. O ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, disse que o tema era prioridade de sua gestão, mas a demora indica que não é bem assim. A informação que temos é a de que o atual governo considera o projeto incompleto e que seriam realizadas consultas públicas para discutir pontos específicos, como o monopólio. Isso deve ocorrer logo. Mas não existe perspectiva de termos o projeto pronto em 2012, até porque no segundo semestre há eleições municipais. Hoje o movimento sindical discute a possibilidade de lançar uma grande campanha no início de abril, para incentivar o debate sobre o marco regulatório em toda a sociedade.

CM - A falta de regulação influencia a vida do jornalista?
BB - Sem dúvida. Quando se vive em um cenário de extrema concentração, o número de postos de trabalho gerados é menor e a exploração, maior. Se você trabalha em um veículo que possui jornal, internet e rádio, a informação é reproduzida em todos eles sem que o profissional receba qualquer remuneração extra. Ou receba muito pouco. Há o caso de repórter-fotográfico que tem seu trabalho reproduzido em outro veículo e ganha R$ 6 por isso. Mas não é uma questão apenas corporativa. O sindicato é um espaço de organização da categoria que precisa debater as grandes questões nacionais.

CM - O que diferencia o programa de sua chapa daquele apresentado pelo grupo da situação?
BB - Ainda que haja bandeiras parecidas, como a defesa de aumento real de salário e o combate à "pejotização", a grande diferença são as práticas na condução do sindicato. Nós somos historicamente contra a cobrança de taxas compulsórias dos sindicalizados. Acreditamos que o sindicato tem um papel importante na formação profissional da categoria, mas isso não pode ser feito por curso pago, que virou uma fonte de renda para o sindicato. Muitos profissionais que fazem esses cursos estão fora do mercado e, por isso, têm dificuldade de pagá-lo. Mas a questão central é a prática na condução da entidade. Precisamos transformar a campanha salarial em verdadeiros momentos de mobilização da categoria. Hoje as demissões em massa nas redações são tratadas apenas com notas de lamento ou repúdio.

CM - O que deve mudar?
BB - É preciso que o sindicato esteja a serviço da mobilização dos trabalhadores. O grupo que está à frente da entidade está lá há algumas décadas, e nesse período temos colecionado derrotas. O cenário sem dúvida se tornou mais complexo, e os problemas não são responsabilidade de um ou outro diretor. Hoje temos mil sindicalizados a menos do que quinze anos atrás, apesar de a categoria ter crescido no Estado. Nas visitas que fazemos às redações, as pessoas perguntam para que se sindicalizar? O jornalista precisa ver o sindicato trabalhando no dia-a-dia, cobrando respeito à jornada de trabalho e à carteira assinada, lutando contra as demissões. Renovação é fundamental para oxigenar o sindicato.

Fonte: Carta Maior

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