terça-feira, 3 de abril de 2012
Recuperação no ensino em debate
“Embora o governo estadual esteja sob controle de um mesmo partido há quase cinco gestões, as idas e vindas no campo educacional mostram que não há coerência nas políticas do setor.” – Editorial do jornal O Estado de S.Paulo em 23/3/2012 - pág. A3.
Realmente, os inúmeros projetos fracassados que vêm assolando a rede pública de ensino no Estado, nos (des) governos do PSDB, têm demonstrado que a política de fundo, de concepção neoliberal, não atende as exigências e demandas de mudança para uma educação de qualidade e desmascara o efeito nocivo que inviabiliza a formação de nossos jovens. Haja vista manifestação do editorial do jornal conservador acima citado.
O Saresp 2011 (Sistema de avaliação do ensino em São Paulo) já apontou a estagnação do ensino no Estado com mais da metade dos alunos (55%) do 5º ano do Ensino Fundamental não atingindo o nível básico da avaliação. Assim como 95% dos alunos do Ensino Médio que não chegam ao nível adequado. Isso vem acontecendo há anos. Para a Secretaria da Educação, a vilã da história é a recuperação.
Hoje, está na ordem do dia a polêmica sobre o processo de recuperação para alunos com dificuldades na aprendizagem, tema já bastante controverso nas discussões pedagógicas e que se tornou um nó górdio a partir da instituição dos ciclos, quando a reprovação só se dá em um conjunto de séries e não ano a ano.
O ponto de partida surge com declarações do governador anunciando o fim da recuperação paralela e a implantação de “novas” modalidades. Sob o argumento de que essa recuperação não atrai mais os estudantes, o governo resolve extingui-la e no lugar coloca a recuperação contínua, dentro da sala de aula com mais de 25 alunos no Ensino Fundamental e mais de 30 no Ensino Médio, utilizando professores auxiliares. Novamente é o segundo professor em pauta. Desta vez professores da rede. Nem é preciso ser professor nem educador para entender como será difícil e pouco produtivo, em uma sala de 30/40 alunos, o trabalho do professor para tentar “recuperar” os alunos com mais dificuldade, ao mesmo tempo em que a aula se processa.
A outra modalidade consiste numa recuperação intensiva em salas especiais só para os alunos com problemas. Discriminatória e excludente essa medida é mais condenável ainda do ponto de vista educacional. Segregar as crianças porque elas têm mais dificuldades em aprender é tão injusto quanto reprovar continuadamente.
A Secretaria da Educação insiste em dizer que a proposta veio com apoio das reuniões regionais realizadas com a categoria. Entretanto, essa afirmação parece uma falácia quando se sabe da reivindicação dos (as) professores (as) sobre a composição da jornada com 1/3 de atividade extraclasse, que poderia compreender o trabalho com os alunos mais problemáticos num acompanhamento quase diário do processo de aprendizagem. É evidente que essas ações exigem investimento e mais recursos.
O cumprimento do piso e da jornada de 1/3 de atividade extraclasse exige também condições bem melhores de infraestrutura. Mas podemos afirmar, como o Ministro da Educação, Aloizio Mercadante, em entrevista ao jornal Valor (19/3), que esse investimento custa, “mas a ignorância custa mais”.
A Secretaria da Educação não informa quantos professores serão utilizados, quantas salas de aula terão o segundo professor, ou quantos alunos não serão atendidos. Falta de transparência, uma prática tucana, também tem a ver com a qualidade de ensino.
*Bia Pardi é assessora de Educação da Liderança da Bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo
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