sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Quem tem medo de enfrentar a corrupção?
Num período em que alguns setores tentam confundir o crescimento da “democracia representativa” com “censura”, recordar fatos e repassar a história nunca é demais.
Por Cecilia Figueiredo
Bastante oportuna e bem-vinda a chegada de mais uma home-page na Internet. “Brado Retumbante” é o nome do projeto, encabeçado pelo jornalista Paulo Markun – amigo de Vlado (Vladimir Herzog) e que sofreu os horrores da ditadura -, que se propõe a trazer à luz a história recente do Brasil, praticamente ignorada pelas novas gerações, que acabam sendo vítimas de estórias e fabulações de quem realmente lutou pela democracia no País e quem estava empenhado na manutenção do poder.
O projeto Brado Retumbante - do golpe às diretas, como o próprio autor revela no texto de apresentação, “pretende preencher essa lacuna, ampliando o conhecimento do grande público sobre o processo que levou ao fim da ditadura”.
Num período em que alguns setores tentam confundir o crescimento da “democracia representativa” com “censura”, recordar fatos e repassar a história nunca é demais.
Desde 2009, quando foi chamada a 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) pelo então governo Lula, e o tema da regulação da mídia ganhou destaque no debate público, seis famílias que até então “controlavam” sem incômodos os grandes meios de comunicação, têm priorizado em páginas de jornais, revistas, nos telejornais e emissoras de rádio, a defesa da liberdade de expressão, que segundo eles, está ameaçada no país.
Foi o trato dispensado na cobertura da campanha eleitoral de 2010, na interpretação das resoluções da I Confecom, na discussão sobre o Plano Nacional de Direitos Humanos, onde o tema está incluído, nas palestras e colóquios realizados pelo Instituto Millenium (Imil) pelo Brasil adentro, que vem reunindo empresários da mídia do Brasil e afora, além de manifestações ditas populares.
Não por acaso os mesmos orquestradores dos atos de 7 e 20 de setembro. Grandes impérios da comunicação a serviços de seus próprios interesses e obviamente dos partidos políticos que os alimentam.
São os mesmos que outrora fabricaram candidaturas presidenciais, não participaram da Confecom – onde vários segmentos da sociedade estiveram presentes -, com raríssimas exceções, mas que bradam pela “liberdade de expressão”, que vem estimulando as manifestações contra a corrupção, creem que a saúde não carece de recurso, fizeram forte apelo pela derrubada da CPMF e para angariar apoio levaram muitos a jurarem que estão sendo tributados, ainda que estes nem conta em banco tenham ou utilizem cheque. Orientam: “Deixem por conta dos mercados! O Estado é incapaz! A Saúde é um ralo sem fim! A gestão pública é que faz com que a saúde esteja na UTI!” Tal qual mercadores da mais verdadeira verdade absoluta, consultores de plantão, às vezes Tonicos, Arnaldos, por outras Diogos, Miriams e Lucias, eles defendem a “transparência, ética e fiscalização”, mas nunca sobre as relações escusas com governos (como os do PSDB) que resultam em patrocínios, propagandas e aquisições com dispensa de licitação de “material didático”.
É como diz o professor de Comunicação e jornalista, Venício de Lima, manutenção do controle dos meios de comunicação de massa assegura o controle político de diferentes regiões do país e é isso que pretendem os defensores do “coronelismo eletrônico”.
Caso não fosse, por que então a grita de quem defende “democracia” não participar de fóruns com outros segmentos da sociedade, para definir os critérios das concessões de rádio e televisão? Por que temer ou fazer de conta que não há princípios norteadores da programação de emissoras, conforme prevê Art.221 da Constituição? Tão pouco o respeito à complementaridade entre os sistemas público, privado e estatal de comunicação e à regra que proíbe o monopólio da mídia.
Em setembro do ano passado, durante o pleito que elegeu Dilma, “intelectuais” lançaram o manifesto pró-imprensa contra o PT, no Largo São Francisco. Alguém lembra o episódio? Personalidades de nem tão diferentes setores assim, como caciques do PSDB, Afif Domingos, o jurista Hélio Bicudo, estudantes e uma penca de “candidatos” tucanos lançaram em ato público documento em defesa da democracia, da liberdade de imprensa e de expressão, do regime democrático e dos direitos individuais.
O objetivo, segundo eles, era barrar uma ‘marcha para o autoritarismo’ promovida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ao lado de Dilma, então candidata à Presidência, fez uso do direito à fala - conquista da democracia - e criticou o comportamento virulento da mídia durante a campanha eleitoral de 2010.
Assim como o debate enviesado sobre a descriminalização do aborto, da união estável entre pessoas do mesmo sexo, que durante a campanha eleitoral de 2010, foram utilizados pelos setores mais retrógrados da Igreja Católica – e descobriu-se em panfletos clandestinos impressos na gráfica de um dos coordenadores da Campanha do José Serra – para derrotar a hoje presidenta Dilma Rousseff, as campanhas em favor do voto distrital e contra a corrupção não voltam à baila agora por mera coincidência.
O Instituto Millenium realizou na semana passada seu 7º Colóquio, para debater o Voto Distrital ou Proporcional? Os participantes responderam em coro (quase unânime): distrital.
De acordo com o jornalista Paulo Henrique Amorim, a posição política da maioria dos convidados era única. O presidente do movimento Endireita Brasil foi o mediador dos debates, realizado na sede da Federação do Comércio de São Paulo.
Independente das posições políticas que assumimos na vida, todos temos o direito de discutir ideias, tentar influenciar outras pessoas. Faz parte do processo democrático. O que não dá é pra usar dinheiro público para beneficiar empresas particulares, como fez o sr. Governador Geraldo Alckmin, conforme foi denunciado no ato de 17 de setembro, no Masp. O que não dá é para que as concessões públicas de rádio e tevê sejam utilizadas para emitir a opinião e a ideologia de um só lado.
Nem mera coincidência de data, tampouco um despertar coletivo de um segmento da sociedade que não aguenta mais a impunidade.
Não é legal omitir informações, ainda mais quando se pretende respeitabilidade e influenciar a sociedade. Por exemplo, o blog do Brizola Neto informa que o domínio na Internet do “Eu Voto Distrital”, diferentemente do que vem sendo propalado de que é organizado pelo “Movimento dos Sem-Partido”, pertence à Associação Comercial de São Paulo, entidade que já foi presidida por Guilherme Afif Domingues.
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