quinta-feira, 5 de maio de 2011

Osasco: Congresso Brasileiro de Teatro realizado após 32 anos


Além do resgate histórico do Congresso de Arcozelo, realizado em 1979, em plena ditadura militar, o CTB 2011 propiciou o encontro e a discussão de cerca de 300 pessoas de várias partes do país sobre as demandas de artistas, o papel do teatro de rua, além de propor o 27 de março, como Dia Nacional de Mobilização do Teatro.

Por Claudio Motta Jr. e Elineudo Meira

O dia 27 de março poderá se tornar em breve o Dia Nacional de Mobilização do Teatro. Esta é a disposição das mais de 300 pessoas que se reuniram em Osasco, no final do mês passado, para discutir o teatro brasileiro no Congresso Brasileiro de Teatro (CBT).

Realizado 32 anos após o último grande encontro da classe teatral, a iniciativa foi promovida numa parceria da Secretaria da Cultura com a Cooperativa Paulista de Teatro e a Rede Brasileira de Teatro de Rua, nos dias 26 e 27 de março, no Centro de Formação de Profissionais da Educação Profª. Águeda Thereza Binotti.

O evento buscou estabelecer plataformas de diálogos, ouvir propostas, reivindicações e promover um debate acerca da necessidade de implantação de um programa nacional de fomento ao teatro.

"Em nosso teatro, diante da natureza e da sociedade, que atitude produtiva podemos tomar para o prazer de todos nós, filhos de uma época científica?” A partir de questionamentos como este, que implicavam o dramaturgo alemão Bertolt Brecht, artistas de rua e dos palcos se reuniram em Osasco para discutir os rusmos do teatro brasileiro. O evento foi oportunidade também para rememorar o que representou o Congresso de Arcozelo, realizado durante o regime militar, em 1979, para o desenvolvimento das artes cênicas no Brasil.

Presidente da Cooperativa Paulista de Teatro, envolvido diretamente com a realização do Congresso, Ney Piacentini se emocionou ao falar sobre a disposição da Secretaria da Cultura de Osasco em realizar o evento: “é raro ter essa generosidade. É raro ter essa disposição. Eu já tinha me emocionado e me emociono de novo. É uma honra para nós, jovens que sonhavam fazer teatro, participar desse congresso.”

No encontro de representantes do teatro com algumas autoridades políticas, estavam presentes na conferência grandes nomes da dramaturgia e da gestão de políticas culturais, como a ex-secretária da cultura em Osasco e atual ministra da cultura Ana de Hollanda, o ator Antonio Grassi, atual presidente da Funarte – Fundação Nacional de Artes, o ator Sérgio Mamberti, atual secretário nacional de políticas culturais, o senador Eduardo Suplicy, o prefeito Emidio de Souza, o secretário da Cultura de Osasco Luciano Jurcovichi, o secretário da cultura de Joinville Silvestre Ferreira, a atriz Cristina Pereira e os diretores de teatro João das Neves, César Vieira, Luis Carlos Moreira e Zé Renato.

Durante a programação, representantes de movimentos, redes, cooperativas, associações, sindicatos, diretórios e centros acadêmicos, fóruns, grupos, companhias e outras entidades ligadas ao teatro, puderam discutir sobre os rumos, apresentar propostas e a pensar em novas ações de políticas públicas para a categoria.

Foram apresentadas ainda as necessidades e as dificuldades da classe artística para a criação e desenvolvimento do projeto do Prêmio Teatro Brasileiro.

O ProCultura - Programa de Fomento e Incentivo à Cultura – foi outro tema muito debatido durante o Congresso. Complexo, o programa está inserido no projeto de lei 6.722/2010 que substitui a Lei Rouanet e, em seu 66º artigo, institui a criação do Prêmio Teatro Brasileiro. Apesar do entusiasmo de alguns com relação ao programa, há ressalvas apontadas em seu texto. Piacentini, um dos principais críticos da proposta, avalia que o ProCultura dá continuidade ao sistema da renúncia fiscal, um mecanismo utilizado por empresas privadas para abater de seu imposto de renda o apoio e incentivo à cultura.

Depois de muitas divergências, propostas e encaminhamentos durante os debates, a conclusão dos participantes do Congresso resultou na Carta de Osasco, lida em público por Marília de Abreu, representante da `Cooperativa Brasiliense de Teatro e Circo. As resoluções do documento simbolizaram otimismo entre os presentes. Para a estudante maranhense Camila Grimal, a expectativa é “de que todos consigam efetivar aquilo que foi planejado durante o evento”.

Integrante da delegação do estado de Santa Catarina, a estudante e atriz de Florianópolis, Mariane Fairi avalia que o saldo do congresso é positivo e destacou a sua importância histórica. “Esse é um momento muito importante pra classe artística. Um momento muito definitivo que vai levar para um próximo congresso. Decisões muito importantes foram tomadas nesse congresso. O mais importante é o encaminhamento que ocorreu essa tarde, com a entrega da carta nas mãos da nossa ministra, Ana de Holanda”, avalia Mariane.

O prefeito Emidio de Souza e o secretário da Cultura, Luciano Jurcovichi, destacaram no encerramento a importância do evento para a história da cultura nacional e o teatro de rua, agradecendo a valorização da ministra Ana de Hollanda, que esteve presente no evento. “Ela já foi secretária da Cultura de Osasco e agora volta na condição de ministra da Cultura. Isso é motivo de muita honra e muito orgulho para nós”, declarou o secretário.

“Espero que o teatro brasileiro encontre no ministério da Cultura políticas adequadas para fazer esse teatro brigar cada vez mais e impedir que o teatro de rua seja reprimido. É o contrário: quando as ruas não conseguem ir para dentro dos teatros, são os teatros que devem ir para dentro das ruas e fazer valer aquilo que nós temos de rico”, acrescentou o prefeito de Osasco.

A ministra Ana de Hollanda falou sobre a importância do ProCultura, elogiou o encontro e admitiu estar bastante otimista quanto à aprovação do projeto de lei 6.722/2010. “Vim a Osasco participar desse Congresso, por gratidão. Devo muito a essa cidade. Aqui comecei a aprender o que é a gestão da Cultura. Foi aqui que aprendi como se faz cultura: é dialogando”.

Ana também defendeu o PL que assegura proteção aos artistas de rua: “Ainda bem que temos um projeto de lei. Espero que esse projeto do deputado Vicente Candido (PT-SP) para proteger, para garantir a continuidade, a existência e o trabalho do pessoal que faz teatro de rua, seja aprovado.”

Satisfeitos, o secretário de Políticas Culturais, Sérgio Mamberti, e o presidente da Funarte, Antonio Grassi, afirmaram que o congresso é um indicativo do diálogo que o governo Federal pretende fomentar com a sociedade civil e com a classe artística. Grassi pediu que o próximo Congresso, marcado para abril de 2012, aconteça na sede da Funarte, em Brasília.


Colaborou Cintia Salles

Edição: Cecilia Figueiredo

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